Fotógrafa alemã percorre o país de bicicleta para conhecer histórias da reunificação
Assinala-se este sábado a oficialização da unidade alemã, que ocorreu a 3 de outubro de 1990.
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A fotógrafa Mina Esfandiari, juntou a profissão com a paixão, percorrendo mais de mil quilómetros de bicicleta, na Alemanha, para captar as histórias de quem assistiu à reunificação, há 30 anos.
"Em 2017, comprei uma bicicleta nova (...) No outono desse mesmo ano, passei por um cartaz que publicitava a 'Radweg Deutsche Einhheit' (Ciclovia da Unidade Alemã) e foi então que percebi que podia combinar a minha paixão pelo ciclismo de longa distância com o meu trabalho como fotógrafa", contou Mina Esfandiari à agência Lusa.
Essa seria também a forma de "saber mais" sobre o país onde vive, "com foco na forma como as pessoas se sentem numa Alemanha reunificada, 30 anos depois da queda do muro de Berlim".
A experiência valeu um livro, "Von B nach B" (De B a B), lançado hoje, dia em que se assinala a oficialização da unidade alemã, a 3 de outubro de 1990.
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"Escolhi este título para deixar as pessoas curiosas. O subtítulo ajuda a entender o significado das duas letras 'B': Bona e Berlim. Bona, como capital provisória da Alemanha durante a divisão, e Berlim, como capital pré Segunda Guerra Mundial e da atual Alemanha reunificada", explica a fotógrafa, revelando o jogo com a já conhecida frase "De A a B" colocando, no seu caso, mais ênfase ao caminho, e menos ao destino.
Esfandiari admite surpresa na forma em como foi recebida pelas pessoas que foi encontrando durante o caminho, "hospitaleiras" e prontas a "emprestar o sofá" por uma noite. Recebeu tantos convites que foi impossível aceitá-los todos.
Com a Lusa, a artista partilha duas histórias opostas, mas que a marcaram. A de Erwin, de 60 anos, considerado o morador "mais louco" de Schwalmstadt, e do médico Hans, que vive em Quedlinburg mas com origem em Frankfurt.
"A queda do Muro de Berlim foi boa para o povo da Alemanha Oriental. A reunificação, no entanto, não foi assim tão necessária. Afinal, a República Democrática Alemã (RDA), poderia perfeitamente ter-se tornado um Estado comunista livre e funcional. Imagino-me a morar lá por algum tempo", confessou Erwin à fotografa.
Já Hans admitiu que a reunificação "foi uma espécie de regresso à normalidade", acrescentando que "é como levar o carro à garagem, arranjá-lo e voltar a conduzi-lo no final".
Numa altura em que ainda existem tantas diferenças e até desacordos entre os dois lados da Alemanha, a autora de "Von B nach B" acredita que o livro pode ser especialmente importante para que se conheçam histórias pessoais que permita construir uma ligação.
"Cada pequeno passo conta. Quero pedir às pessoas que viajem e conheçam o outro lado, conversem com as outras pessoas. É isso que pode criar uma verdadeira união", apelou.
Mina Esfandiari pedalou durante trinta dias cerca de 1.200 quilómetros entre cidades alemãs mais e menos conhecidas.
Com um país dividido em dois durante mais de meio século, depois da Segunda Guerra Mundial, a República Democrática Alemã (RDA) e a República Federal Alemã (RFA), foram oficialmente reunificadas a 03 de outubro de 1990, quase um ano depois da queda do muro de Berlim.