As ruas de Paris, Lyon, Nantes e Rennes viveram confrontos entre manifestantes e a polícia
Corpo do artigo
A França vive esta quinta-feira uma das maiores mobilizações sindicais dos últimos anos, com protestos em todo o território contra as medidas de contenção previstas no próximo orçamento e, mais amplamente, contra a política do Presidente Emmanuel Macron. A CGT (Confederação Geral do Trabalho) afirmou que mais de um milhão de pessoas saíram às ruas, enquanto o Ministério do Interior contabilizou 282.477 manifestantes fora da capital.
Em Paris, dezenas de milhares de pessoas desfilaram entre a Praça da Bastilha e a Praça da Nação. Passadas duas horas de um ambiente pacífico, registaram-se incidentes na avenida Voltaire, com lançamento de objetos contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo e granadas de dispersão. Um grupo tentou vandalizar um restaurante de fast food, mas foi rapidamente travado. No essencial, a marcha decorreu de forma calma, marcada por cidadãos não necessariamente sindicalizados que quiseram afirmar a defesa do serviço público e exigir mudanças à política governamental.
Segundo dados das autoridades locais, Marselha reuniu cerca de 15 mil manifestantes, Lyon 14 mil e Toulouse 18 mil, em mais de 600 ações por todo o país. O dispositivo de segurança mobilizou 80 mil agentes de segurança, tendo resultado em 140 detenções até ao final da tarde, 21 das quais em Paris. Houve confrontos também em Nantes, Rennes e Lyon, onde dois polícias e um jornalista ficaram feridos.
Os serviços públicos funcionaram de forma parcial. No sector da educação, o Ministério avançou que um em cada seis professores aderiu à greve, enquanto o Sindicato Nacional do Ensino Secundário (SNES-FSU) reivindicou um em cada dois professores. Setenta e cinco liceus foram bloqueados. No sector farmacêutico, 18 mil das 20 mil farmácias estão fechadas em protesto aos cortes de salário.
Os transportes foram muito afetados, sobretudo em Paris, onde a maior parte das linhas de metro não automáticas ficou fechada durante quase todo o dia. Muitos passageiros tentaram arranjar alternativas, como o elétrico, autocarros ou bicicletas.
Mathieu, que trabalha num hospital, contou que os elétricos iam a abarrotar, "com os vidros todos embaciados de tanta gente lá dentro". Thibault usa habitualmente a linha 13 e disse que acabou por sair em Porte de Saint-Ouen para procurar um autocarro, porque a estação onde queria descer estava fechada. Já Clément, um jovem trabalhador, contou ter sido apanhado de surpresa: "Não sabia que estava tudo bloqueado. Acabei por chamar um VTC. É caro… Vai ser um dia complicado para os parisienses."
Para os sindicatos, esta greve foi um "aviso claro" ao governo. Falta agora perceber se o executivo vai manter a sua política orçamental ou se vai abrir espaço para negociações, num contexto de contestação social que veio para ficar.
