França não renuncia às caricaturas, Turquia retalia com boicote a produtos franceses
O homólogo turco questionou a "saúde mental" do Presidente francês, no que toca às suas posições sobre o islamismo radical e liberdade de expressão.
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A tensão entre a França e a Turquia tem vindo a aumentar desde agosto, quando a França apoiou a Grécia no contexto da crise turca-greca no Mediterrâneo. A situação agravou-se quando o chefe de Estado francês defendeu a liberdade de caricaturar o profeta Maomé ao afirmar que não iria "renunciar às caricaturas, aos desenhos", durante a homenagem ao professor francês Samuel Paty, decapitado num atentado islâmico radical.
A controvérsia intensificou-se quando, na última terça-feira, o jornal semanal satírico Charlie Hebdo publicou na primeira página uma caricatura do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de roupa interior, a beber uma cerveja e a levantar a saia de uma mulher, revelando as suas nádegas.
Dejanirah Couto, investigadora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, considera que a publicação da caricatura de Erdogan marca uma mudança de perspetiva. "Até aqui, estávamos no registo do profeta, portanto da religião. Esta caricatura é dirigida contra ele, pessoalmente, e aqui as coisas mudam completamente de perspetiva, porque ele próprio é extremamente suscetível a qualquer tipo de crítica, de perto ou de longe".
"Condenamos o esforço totalmente desprezível desta publicação para espalhar racismo cultural e ódio", contra-atacou o assessor de imprensa do presidente turco, Fahrettin Altun, através do Twitter.
Face a estas tensões, Erdogan promete retaliações judiciais à França nos próximos meses. Vários líderes europeus manifestaram solidariedade para com Emmanuel Macron.
Dejanirah Couto considera que uma estratégia política toma lugar neste boicote, visto que "os produtos franceses são caros: quem é que na Turquia, com as dificuldades económicas, tem acesso a produtos franceses? É uma franja relativamente pequena do eleitorado de Erdogan", pelo que "haverá a necessidade, neste momento, para Erdogan de remobilizar o seu próprio eleitorado, e é para isso que as medidas do boicote à França estão a ser utilizadas".
Na quinta-feira, o chefe de Estado francês prometeu que "o país não irá ceder ao medo e ao terror". Em Nice, o Presidente francês reagiu aos ataques coordenadas que levaram o país a elevar o alerta máximo e a reforçar os meios militar da Operação Sentinela com mais 4.000 militares. França voltou a ser alvo de ataques terroristas em Nice, Avignon e na embaixada francesa na Arábia Saudita.
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