Aviso foi feito esta sexta-feira pelo primeiro-ministro de Timor, que apelou a "um gesto" de Lisboa para esclarecer a situação. MNE português já disse que nada pode prejudicar as relações bilaterais.
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Mari Alkatiri disse à Lusa estar preocupado com o facto de a embaixada portuguesa em Díli ter emitido os passaportes que Tiago e Fong Fong Guerra tinham quando fugiram do país, apelando a Lisboa para que faça "um gesto" em relação a esta situação.
"Estou preocupado com a própria atitude da embaixada portuguesa ter emitido os passaportes portugueses. Isso pode ferir as relações entre dois países irmãos, e dentro da CPLP. Temos que gerir como deve ser esta situação", disse.
Nesse sentido, Mari Alkatiri deixou um "apelo direto" ao Governo Português para "encontrar formas de fazer um gesto" para convencer as autoridades timorenses de que "isto foi um caso isolado que dificilmente poderá voltar a acontecer".
O ministro dos Negócios Estrangeiros português já veio afirmar que nada pode prejudicar as relações com Timor-Leste e que o gesto que o Governo português pode dar é a continuidade das boas relações bilaterais e do diálogo.
O caso de Tiago e Fong Fong Guerra tem marcado um dos momentos mais tensos das relações bilaterais recentes entre Portugal e Timor-Leste nos últimos anos, provocando uma onda de críticas na sociedade timorense.
Condenados a oito anos de prisão em Díli - o caso ainda não transitou em julgado porque foi alvo de recurso - Tiago e Fong Fong fugiram para a Austrália, onde chegaram, de barco, a 9 de novembro, tendo chegado a Lisboa a 25 de novembro.
Mari Alkatiri admitiu ainda estar preocupado que a comunidade portuguesa em Timor-Leste esteja a ser alvo de insultos e possa agora ser "alvo de perseguição" da justiça na sequência do caso.
A entrega de passaportes ao casal pela embaixada portuguesa em Díli foi criticada em Timor-Leste, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, garantiu que a legislação portuguesa foi respeitada, conclusão de um inquérito urgente que tinha ordenado.
Apesar disso, as críticas aos portugueses e a Portugal têm-se multiplicado em Timor-Leste com vários portugueses ouvidos pela Lusa a relatarem terem sido insultados na rua.
Nas redes sociais têm também aumentado os comentários críticos e insultos contra Portugal e os portugueses por parte de alguns timorenses, muitos deles com dupla nacionalidade e alguns dos quais ainda a receber pensões e apoios do Estado português.
"A segunda maior preocupação que tenho é com a comunidade portuguesa em Timor-Leste. Espero que isto não se generalize", afirmou.
"A partir de agora se houver algum português que seja suspeito de qualquer coisa dificilmente terá Termo de Identidade e Residência. Porque há perigo de fuga, tem que ir a prisão preventiva e seria péssimo que isso acontecesse. Essa é a minha maior preocupação: começar a colocar cidadãos portugueses como alvo de uma perseguição da justiça", disse o chefe do Governo.
Mari Alkatiri considerou que se corre o risco de "criar uma situação em que portugueses que eram considerados como irmãos passam agora a ser pessoas sempre alvos de críticas, ou de outro tipo de atitudes". Por isso, deixou um apelo à sociedade timorense "para não generalizar esta questão".