Paulo Pereira trabalha numa escola em Toronto como assistente social, e é também treinador de futebol. Quando soube que 112 jovens tentaram o suicídio numa comunidade indígena no norte de Ontário, decidiu agir através do desporto.
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Chama-se "Projeto Primeiras Nações" e pretende hastear a bandeira de uma comunidade unida e solidária com os indígenas do Canadá. A viver em lugares muito remotos, onde as temperaturas chegam a atingir os 60 graus negativos, os povos indígenas canadianos não têm como sentir o calor de um abraço. Mais do que isso: "há dois Canadás. Há o Canadá de Toronto e das outras cidades a que se tem acesso por estrada, e depois há as outras comunidades remotas indígenas das reservas", conta Paulo Pereira, o presidente da associação.
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"A falta de acesso por estrada provoca isolamento, depressão, falta de oportunidades para criar amizades, emprego e educação", relata Paulo Pereira à TSF. A existência de um Canadá frio e solitário tem provocado entre os jovens indígenas muitos casos de depressão e até de suicídios em grupo.
Mas entre estes dois Canadás há a diversão e o fair-play universal do desporto, afiança o assistente social que trabalha numa escola em Toronto. "O futebol é um meio. A ideia é que estas amizades se fortaleçam para que lá não se sintam tão isolados e para que as nossas crianças aprendam a apreciar as suas vidas." Com a informação de que 112 jovens tentaram o suicídio numa comunidade indígena no norte de Ontário em 2017, Paulo Pereira quis colocá-los a trabalhar com os pés e dar às crianças da região a capacidade de se colocar nos sapatos do outro.
"Obviamente aqui uma pessoa tem tudo, e muitas vezes pensa que não. Quando chegamos perto desta realidade, reparamos que afinal estamos muito bem", nota o assistente social e treinador de futebol.
Ao início, a chegada a estas comunidades indígenas foi "um choque" para os adolescentes canadianos, com idades entre os 15 e os 18 anos. "Alguns pediram no próprio dia para regressar", mas, ao longo da semana, "as coisas modificaram-se radicalmente". No último dia, "os miúdos choraram, não queriam voltar".
O projeto, que nasceu para dar resposta a um estado de emergência, depois da tentativa de suicídio de vários jovens, estendeu-se para lá das quatro linhas. Basquetebol, dança e música são agora novas opções destinadas a aproximar ambas as comunidades.
A associação "Projeto Primeiras Nações" já chegou a mais mil indígenas, 120 adolescentes de Toronto, metade dos quais lusodescendentes, e está de novo a angariar fundos para alargar a iniciativa a outras comunidades indígenas do Canadá.