Quase dez milhões tentam ocupar as 3,74 milhões de vagas nas universidades. A polícia isola escolas e os alunos são tratados como reis. Assim é o Gaokao, o exame do secundário chinês.
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Queimam pestanas a estudar dias inteiros, dão nós no labirinto da memória, cuidam da dieta, recebem massagens e contam com as rezas de pais e avós. As famílias alugam casas e enchem hotéis, que oferecem bebidas energéticas, suplementos vitamínicos e chocolate. O yoga é outra saída, para amansar a mente nervosa e ajudar a esquecer a pressão. É que muitos são filhos únicos, que têm nos ombros a esperança de uma família inteira para um amanhã jeitoso, fugindo do fado rural que lhes cantaria de sol a sol.
É todo um evento na China. Quase dez milhões de adolescentes tentam ocupar as 3,74 milhões de vagas nas universidades chinesas. É um acontecimento que conta com a polícia a isolar escolas, manipular o trânsito e abrir caminho para estudantes, para que nada falhe no dia mais importante da vida destes miúdos. Os alunos passam entre multidões como se fossem estrelas de cinema (basta ver a segunda fotografia da fotogaleria em cima). As cidades param, os nervos aceleram. Há ambulâncias nas escolas para os que quebram e cedem à dimensão do desafio que se lhes apresenta em forma de papel.
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"Depois de praticar milhões de vezes por dia, creio que todos dominamos os temas", dizia o ano passado ao El País Wang, um rapaz de 18 anos que ia enfrentar a fera Gaokao. "O êxito e o fracasso dependem da concentração e do que cada um aguenta. Neste momento já não é uma competição de inteligência, mas sim física e psicológica." Este exame, criticado por muitos por promover a memória de tematicas específicas, é tido como um instrumento que respeita a meritocracia.
O que é afinal o Gaokao? É um exame com pontuação de zero a 750 pontos. Quanto mais alta a nota, mais chances de chegar às melhores universidades, que serão chave para entrar no mercado de trabalho com o vento nas costas, digamos assim. Não é propriamente diferente do que acontece noutros lugares, mas a competição é enorme, colossal.
"Eu quero que ele vá para a melhor universidade possível, mas isso depende da sua preparação e rendimento", dizia então a mãe de Wang. "Os graduados que se formam em universidades famosas são distintos dos que o fazem nas normais", explicava, elevando o tom da pressão e esperança no filho Wang.
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Para ser bem-sucedido neste exigente exame há que passar a matemáticas, línguas chinesa e estrangeira, normalmente o inglês, contava este artigo do El País. Depois, têm de ter sucesso nas disciplinas da área que escolheram: ciências (química, física e biologia) ou ciências sociais e humanidades (História, política e geografia).
"O Gaokao é como um grande jogo, em que cada participante segue a mesma lógica e trabalha arduamente para aumentar as hipóteses de ser escolhido", descreve Liu Jiawei, estudante na Universidade de Pequim. Para Liu, o Gaokao é também uma prova do seu esforço nos primeiros vinte anos da sua vida e marca um ponto de viragem para a vida adulta.
O êxito no Gaokao pode proporcionar a saída da pobreza de famílias rurais, permitindo o acesso dos seus filhos a um emprego bem remunerado nas prósperas cidades do litoral. A prova leva pais e familiares ou curiosos a concentrarem-se em frente aos centros de exame para encorajar os estudantes. O Gaokao demora entre dois e três dias.
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Na Mongólia Interior, noroeste da China, um comboio transportou na terça-feira mais de 600 estudantes até ao distrito de Oroqen, para realizarem a prova. Em Pequim e outros centros urbanos, a frequência de algumas carreiras de autocarro foi reforçada. No metro, os estudantes têm acesso prioritário, evitando filas de espera em hora de ponta. Dispositivos da polícia são também destacados, para manter a ordem e evitar o uso de cábulas.
Este ano marca o 40.º aniversário desde que os testes foram retomados, após terem sido suspensos durante a Revolução Cultural, entre 1966-76. Curiosidade: o Justin Bieber chinês, Wang Junkai, vai participar da popular TFBoys, vai participar, conta a CNN.