Gaza está "sobrelotada", sem "comida, abrigo e higiene": impactos na saúde são "catastróficos"
O diretor geral da OMS destaca que a situação atinge de forma particular as mulheres grávidas e estima que mais de 180 "dão à luz sozinhas todos os dias".
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou este domingo para a falta de condições na Faixa de Gaza, reiterando que o espaço "sobrelotado" e "a falta de comida, água, abrigo e higiene" estão a ter um impacto "catastrófico" na saúde.
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Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS fala em "sinais preocupantes de epidemias e doenças".
"Há cada vezes mais pessoas em áreas cada vez mais pequenas. O espaço está sobrelotado que, com a falta de comida, água, abrigo e higiene, criam a situação ideal para o alastrar de doenças contagiosas. Há sinais preocupantes de epidemias e doenças hemorrágicas, bem como diarreias e infeções respiratórias, uma situação que vai piorar com o inverno", sentencia.
Ghebreyesus aponta que, em média, há "um chuveiro para cada 700 pessoas e uma casa de banho para 150". As condições a que os palestinianos têm sido submetidos há já dois meses estão a deixar o sistema de saúde de Gaza "de rastos e a colapsar".
A OMS está reunida este domingo em Genebra, Suíça, numa sessão extraordinária para discutir a situação nos territórios palestinianos. A reunião foi solicitada por 15 países membros da OMS.
Os participantes vão abordar a situação de um sistema de saúde praticamente colapsado em Gaza.
Sem contar com as que possam estar debaixo dos escombros, a OMS calcula que pelo menos 17 mil pessoas tenham morrido na Faixa de Gaza desde outubro, entre elas sete mil crianças. Há também 46 mil feridos, pelas contas da organização.
No total, a OMS conta perto de dois milhões de sobreviventes, que se acumulam sem quaisquer condições e em grave risco de doenças.
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Antes da guerra, havia 36 hospitais na Faixa de Gaza. Agora, são apenas 11. Acolhem doentes, mas também refugiados que não têm para onde ir.
Segundo a OMS, ocorreram cerca de 500 ataques a instalações e quase dois terços dos hospitais e centros de saúde não podem funcionar.
A situação é agravada pelas grandes dificuldades na receção de fornecimentos humanitários.
Tedros disse que entre os 134 profissionais da ONU mortos no conflito está pelo menos um funcionário da OMS, Dima Abdullatif Mohammed Alhaj, de 29 anos.
"Um cessar-fogo seria a única forma de proteger verdadeiramente a saúde em Gaza", disse Tedros, segundo a agência espanhola EFE.
O diretor geral da OMS destaca que a situação atinge de forma particular as mulheres grávidas.
"Todos os dias há mais de 180 mulheres em Gaza que dão à luz sozinhas. Há quase duas mil pessoas a fazerem tratamentos de cancro, 350 mil com diabete, hipertensão ou doenças cardíacas. Pelo menos 20 mil civis sofrem de doença psiquiátrica aguda e muitos mais têm sérios distúrbios mentais por causa da guerra", lamenta.
O organismo descreve igualmente como "inimagináveis" as condições em que os trabalhadores da saúde estão a operar em Gaza.
Mais de uma centena de profissionais já morreu, sendo que a maioria está na linha da frente.
Nos 75 anos da organização, o diretor-geral deixa um apelo: "Sem saúde não há paz. Sem paz não há saúde."
O ministro da Saúde palestiniano, Mai al-Kaila, disse na reunião que foram diagnosticados mais de 129 mil casos de doenças respiratórias e 55 mil casos de doenças de pele resultantes da sobrelotação e da falta de higiene em Gaza.
"A urgência da situação é inegável e apelamos às organizações humanitárias para que tomem medidas concretas para fazer face aos efeitos desta guerra e para evitar mais sofrimento para a população de Gaza", afirmou.
Al Kaila apelou ao "fim imediato da guerra brutal contra Gaza" para que a ajuda humanitária e o pessoal médico possam "entrar incondicionalmente" no enclave palestiniano de 2,3 milhões de habitantes.
A delegação israelita, representada pela embaixadora na ONU em Genebra, Meirav Eilon Shahar, começou por criticar a OMS por realizar uma reunião extraordinária sobre este conflito e não sobre o Iémen, a Síria e o Sudão.
A diplomata acusou o Hamas de não prestar cuidados médicos aos 137 reféns ainda nas suas mãos e de tentar atacar com foguetes instalações de saúde em solo israelita.
"Reconhecemos o sofrimento em Gaza, mas não se enganem, o Hamas é responsável por ele", afirmou Eilon Shahar, que disse que Israel respeita as leis da guerra e tenta minimizar os danos causados aos civis.
"A realidade é que estamos a lutar contra uma organização terrorista que opera a partir do interior de hospitais, escolas e instalações da ONU", insistiu, declarando que o Hamas "militariza as instalações de saúde há anos".
A diplomata avisou que a sessão deste domingo da OMS, que vai votar uma resolução sobre a situação sanitária em Gaza, "só servirá para alimentar as ações do Hamas".
"Apesar desta reunião, vamos derrotar o Hamas, vamos continuar a proteger a nossa população e vamos trazer os reféns para casa", afirmou.