Em Espanha, arranca esta sexta-feira uma campanha para umas eleições inéditas: é a primeira vez que os espanhóis são chamados duas vezes seguidas às urnas por falta de acordo para forma governo.
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Se, por um lado, os espanhóis assumem a discussão política com entusiasmo e paixão, por outro lado, João Fernandes nota-lhes algum cansaço e vontade de uma segunda reviravolta pós-franquismo: "Há como um sentimento de que a Espanha necessita de uma segunda transição na história da sua democracia".
Ao ex-diretor de Serralves e atual diretor adjunto do Museu Rainha Sofia, perguntam-lhe pela geringonça, com uma frase que gostam muito de citar: "menos mal que nos queda Portugal". "Essa frase é extensível à famosa geringonça que tem operado duma forma que em Espanha não tem sido possível", faz notar.
É isso mesmo que faz com que Begoña Iñiguez, correspondente da Cadena Cope em Portugal, diga que cá há mais maturidade democrática que lá: "Portugal tem mostrado mais maturidade, este é um país mais calmo. António Costa tem uma grande capacidade política e de diálogo e foi capaz de conseguir o que queria".
É essa capacidade de diálogo que está a faltar aos políticos espanhóis. Begoña dá o exemplo do Podemos fazendo o paralelismo com o Bloco de Esquerda, para dizer que Pablo Iglesias tem mais sede de protagonismo que Catarina Martins. E isso torna os acordos mais difíceis, afastando mais o modelo da geringonça. "Não sei se seria possível um modelo assim, porque Iglesias quer mesmo governar".
Já para João Fernandes, é o PSOE que vai funcionar como fiel da balança, "vai ver-se num dilema em relação ao qual vai ter que definir-se ou por uma situação de alianças com as esquerdas ou por uma situação que possibilite o PP continuar a governar".
Uma coisa é certa: as sondagens revelam que os espanhóis não estão com vontade de dar maioria absoluta a nenhum partido, parecendo pedir diálogo e acordos.