"Golpe de Estado bem recebido." Português no Gabão conta que "militares estão com a população"
Fausto Correia contou à TSF que a população está na rua a "festejar a partida do antigo Presidente".
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O português Fausto Correia está na cidade de Port-Gentil, no Gabão, onde na madrugada desta quarta-feira um golpe de Estado acabou com o regime de Ali Bongo e conta que tudo começou por volta das 5h30, quando os militares ocuparam a rádio e a televisão nacional.
"Estou em Port-Gentil, saí à rua há pouco, tenho também os meus negócios na cidade e está toda a população na rua a festejar a partida do antigo Presidente. Há um golpe de Estado em marcha neste momento e pouco mais sei do que isso. Estivemos também sem internet desde sábado. Só hoje, há cerca de 30 minutos, é que voltou a haver internet e não temos muita informação ainda, mas há um golpe de Estado, é dado adquirido", contou à TSF Fausto Correia.
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O cidadão nacional não tem dúvidas de que o golpe de Estado foi extremamente bem recebido.
"Está a população toda na rua, os militares estão com a população. No princípio, aparentemente, houve uma troca de tiros entre a polícia e o exército, mas depois resolveu-se e agora está tudo tranquilo", acrescentou o português.
Depois de ocupar a televisão nacional, um grupo de militares do Gabão anunciou o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram, no sábado, Ali Bongo Ondimba e a dissolução de todas as instituições democráticas.
O anúncio foi feito num comunicado de imprensa lido no Gabon 24, um canal de televisão detido pela Presidência do país, por cerca de uma dúzia de soldados gaboneses.
Depois de constatar "uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (...) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor", declarou um dos soldados.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições. O Governo invocou o risco de violência, na sequência das declarações de Ondo Ossa, que exigia ser declarado vencedor.
O exército e a polícia tinham montado bloqueios de estradas em toda a capital, durante a madrugada, para impor o recolher obrigatório pela terceira noite consecutiva.
Logo no dia da votação, duas horas antes do fecho das assembleias de voto, os principais partidos da oposição gabonesa tinham denunciado uma fraude eleitoral e exigido que fosse reconhecida a vitória de Ondo Ossa.
Na segunda-feira, numa conferência de imprensa em Libreville, Mike Jocktane, diretor de campanha de Ondo Ossa, disse que Bongo tinha de aceitar, "sem derramamento de sangue, a transferência de poder".