Gouveia e Melo: "Se a Europa for atacada e se a NATO exigir, nós vamos morrer para defender a Europa"
O Almirante Henrique Gouveia e Melo nasceu em Moçambique, tem 63 anos e é, desde final de 2021, o Chefe do Estado Maior da Armada. Na semana em que Aveiro recebe o Dia da Marinha, fala da ameaça russa, do serviço e da disciplina militar, e da recente missão do submarino Arpão, no Ártico.
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Estamos a meio de maio de 2024. É mais correto dizer que é possível ou que é provável ter militares da Marinha e meios navais da Marinha envolvidos em combate nos próximos tempos? Ouvimos declarações suas recentes em que alertou para a possibilidade de a Marinha poder vir a entrar em operações reais.
Operações reais não significa que sejam operações de combate. São operações que podem incluir ações de dissuasão, que podem incluir pequenas ações, eventualmente escaramuças e, no último caso, ações de combate. Estamos perante uma iminência de um problema muito sério na Europa. A invasão que a Federação Russa fez a um país independente, que é a Ucrânia, veio mudar o comportamento internacional. Isto está a criar um eixo revisionista desse comportamento internacional ou destas regras internacionais, que são, ou eram até agora, dominadas pelo Ocidente e controladas pelo Ocidente. Essa mudança pode ser de tal forma estruturante, que pode destruir as bases que temos hoje. E destruindo essas bases, tudo que hoje consideramos como garantido, que é a segurança na Europa, a NATO, a União Europeia, que são pilares essenciais para a nossa segurança e para a nossa prosperidade, podem ser postos em causa. E sendo postos em causa, num mundo muito conturbado, não é inimaginável, como era há uns anos atrás, que possamos ter de alinhar, porque fazemos parte de uma aliança, em conjunto. E, portanto, o que temos é um conflito mais generalizado.
Mas tirando a parte dos combates, em que é que isso é diferente do dia-a-dia normal de uma atividade operacional da Marinha de Guerra? Porque a Marinha já está empenhada em missões internacionais, onde esse risco de escaramuças, pelo menos, existe, não é?
Sim, mas até recentemente esse risco era distante. Porquê? Porque havia um consenso internacional de não escalar. Por exemplo, se dois navios se encontrassem no mar e houvesse algum problema entre os dois navios, normalmente a ação seguinte era mitigar a situação. Portanto, reduzir a tensão. Hoje isso não acontece. E dessa atividade que está a acontecer no mundo inteiro, mas mais na Europa e no Atlântico, pode acontecer, numa determinada situação, esta situação escalar para uma situação que não é nada confortável e temos de estar preparados para ela. Para não sermos apanhados desprevenidos.
Mas nas vossas missões já tiveram algum sinal disso? Já houve algum momento com essa tensão?
Sim, houve momentos de tensão, de atos que não eram praticados nunca antes e que agora começam a ser praticados. Claro que ainda estamos numa fase controlada, mas essa fase controlada tem muito a ver com a perspetiva da evolução da Ucrânia também e do modelo, depois ou não, da confrontação que se vai seguir dentro da própria Europa e com ou sem a participação da NATO.
Sobre as missões de acompanhamento de navios russos que atravessam as águas sob controlo da Marinha portuguesa: que tipo de informação é que tem sido recolhida nessas missões, que sempre existiram, mas que agora são mais visíveis?
Sempre existiram, mas numa quantidade completamente diferente. Para ter ideia, há três anos, o número de acompanhamentos que fazíamos era inferior a uma dezena por ano. E só no ano passado fizemos 46 acompanhamentos. E já neste ano fizemos 14 acompanhamentos. Portanto, esses acompanhamentos a navios da Federação Russa, militares ou dados a atividades militares, sendo mercantes mais com atividade militar conhecida, que transitam nas nossas águas podem só transitar no sentido de irem da posição A para a posição B e têm de passar nas nossas águas, ou então podem ter interesses nas nossas águas. E as duas coisas acontecem simultaneamente. Portanto, o que fazemos é vigiá-los, inibir que façam operações nas nossas áreas e estarmos em presença constante enquanto eles estão nas nossas águas. Porquê? Porque imagine que está a fazer uma vigilância só eletrónica do navio e começa a perceber que o navio reduziu a velocidade. E quando percebe que o navio reduziu a velocidade, pergunta-se porque é que ele reduziu a velocidade? Se calhar vai meter um aparelho de prospeção para saber onde estão os nossos cabos submarinos ou se calhar muito mais do que isso, além de meter o aparelho, vai meter uma carga explosiva que pode ser ativada mais tarde em caso de necessidade. Se não estivermos presentes, não conseguimos inibir essa ação, nem prejudicar essa ação, nem nos apercebermos dessa ação. Poderíamos ter a suspeita que houve ali qualquer coisa, mas a vigilância aérea também não é permanente, a vigilância satélite não é permanente. Além disso, estamos a recolher informação, como eles recolhem de nós, para termos atualizadas as nossas bases de dados, caso a situação escale para uma situação pré-confronto ou de confronto num futuro próximo ou a médio prazo.
O tal risco das escaramuças também pode acontecer nessas situações?
Claro que sim, já aconteceram situações desagradáveis nesses seguimentos.
O que é que quer dizer com situações desagradáveis?
Não vou aqui referir os assuntos operacionais concretos, mas não só connosco, mas com a própria Força Aérea também já aconteceram situações em que normalmente, nos períodos anteriores a este período de tensão, nunca aconteceriam e que nós consideramos que podem ser um escalar. E se não temos também o profissionalismo e o sangue-frio para não escalar uma situação dessas, pode criar-se um incidente internacional que pode inflamar uma situação que já por si não é boa.
E tendo em conta essa possibilidade de escalada, até que ponto é que a Marinha neste momento está mais bem preparada do que estava, por exemplo há dois anos? Nessa altura, houve denúncias que a Marinha não tinha meios para responder aos compromissos da NATO, mas na altura garantiu que não era verdade e que sempre que fosse solicitada a Marinha responderia. Consegue? O que é que há de diferente neste momento em relação àquilo que havia há dois anos?
A Marinha está mais pronta e está mais preparada. A preparação tem a ver com o treino e a prontidão tem a ver com os meios materiais. A Marinha tem cerca de 60% dos seus navios em estado operacional, o que é um número bastante significativo.
Quanto é era comparativamente com há dois anos?
Não lhe vou dar esses números. O que quero dizer é que 60% dos seus navios em estado operacional é um número muito elevado, mesmo para as Marinhas de referência. Portanto, conseguimos fazer alguma recuperação. Não escondemos que temos problemas, trabalhamos com duas Marinhas. Temos uma Marinha que está em renovação, que é uma Marinha mais moderna, e temos uma Marinha que ainda é uma Marinha antiga. Claro que a Marinha antiga está mais nas áreas de soberania e de fiscalização e a Marinha mais moderna está mais nas áreas da defesa propriamente dita. Mas temos de conviver com essas duas Marinhas. E enquanto estamos a renovar a Marinha, não podemos deixar de usar a que está mais envelhecida. Portanto, o que fazemos é tentar manter o melhor possível o estado dos equipamentos para operar. Muitas vezes, temos de operar com limitações porque a alternativa é não fazer a missão. E não fazer a missão é criar um vazio perigoso para o próprio Estado e para a própria aliança, e até para o próprio Estado português dentro da aliança.
Desde que assumiu a chefia da Armada, houve uma polémica com o NRP Mondego. Aquela sua intervenção a bordo do navio, no Funchal, resultou em quê? O que é que a Marinha e o país ganharam com aquela intervenção?
A intervenção, na minha perspetiva e agora visto já no prazo mais dilatado, foi uma intervenção muito relevante. Porquê?Porque um conjunto de militares resolveu divulgar um ato de insubordinação. Um ato de insubordinação que tinha relevância internacional e que tinha relevância nacional.Como qualquer ato de insubordinação, principalmente dentro das Forças Armadas, e haveria até, eventualmente, algum perigo de contágio desse ato de insubordinação, sendo público e tendo sido um ato em que essa publicidade foi feita como uma fuga para a frente das pessoas que estavam envolvidas,tivemos de dizer de forma muito clara para dentro da organização e para o país que aquele ato não podia acontecer.Que era um ato que era condenável e que não podia acontecer de forças militares de carácter militar e ocidental e principalmente em Portugal, porque isto é o nosso país.E foi isso que eu fui fazer. Fui muito criticado porque diziam que o meu ato foi dar um ralhete em público. Não dei ralhete nenhum em público.Se olharem para o meu discurso agora, passado quase um ano e tal, vão ver que não há nenhum ralhete. O que há são considerações, na altura feitas sobre um ato de insubordinação e sobre o significado desse ato de insubordinação,quer para dentro das Forças Armadas, quer para a Marinha, quer até em termos internacionais. E que esse ato tinha consequências.E que as pessoas que o tinham feito, que era lamentável terem-no feito, iriam ter as consequências normais que decorrem da própria lei.
E essa intervenção tornou melhor a vida dos militares, a vida na Marinha e tornou mais segura a Marinha à luz do país?
Tornou-a mais disciplinada. Foi um ato de clarificação. Sabe que muitas vezes, quando o líder é titubeante nos momentos mais graves, o sistema julga que tem mais espaço de manobra. E eu fui retirar o espaço de manobra. Fui dizer-lhes, e dizer em público de forma veemente, que estes atos não são aceitáveis em nenhuma instituição militar em nenhum país. E não temos a tradição de fazer atos destes. Somos Forças Armadas democráticas, o poder político tutela as Forças Armadas, as Forças Armadas têm uma composição democrática e têm mecanismos para resolver problemas destes, não através de atos de insubordinação. Porque se forem admitidos atos de insubordinação nas Forças Armadas, as Forças Armadas acabarão no dia seguinte. Porque as Forças Armadas, quando tivermos de combater, ninguém vai por prazer arriscar a sua vida ou de forma leve, a não ser um louco. Portanto, há atos muito difíceis de fazer nas Forças Armadas que requerem coragem e requerem disciplina. E é uma organização muito perfeita para evitar que as pessoas ponham em risco até os seus camaradas por atos de insubordinação. E, por isso, o que fiz foi dizer de forma muito clara que isto na Marinha é inaceitável e o país não deve aceitar uma coisa destas. E dizer que em termos internacionais isto não vai voltar a acontecer. E foi isso que fiz de forma muito veemente. E as pessoas podem não estar habituadas a que um líder seja veemente, mas no meu modelo de liderança essa veemência é importante. E já agora deixe-me acrescentar uma coisa muito simples. Costumo perguntar sempre a um comandante, quando se senta ao meu lado e o vou nomear para funções de comando, se ele é bandeira ou é vento. Eles ficam um bocado confusos no início. É porque "se é vento, o senhor é que dirige o seu navio, mas se é bandeira, vai ser dirigido por uma massa informe que tem desejos estranhos e que podem não ser os desejos que o país necessita e que o país quer que sejam feitos".
Mas é uma pergunta com rasteiras, não é?
É, claro. Porque nós não estamos lá para nos divertirmos nem para andarmos a passear fardas, não é? Portanto, olho para a nossa função como uma missão. E a nossa missão exige muito sacrifício, exige muito espírito de sacrifício. Agora, esse espírito de sacrifício é compreendido pela maioria dos nossos militares. Este caso são 13 pessoas. Mas há seis mil militares. Há seis mil e tal pessoas que todos os dias, que são os outros militares todos da Marinha, são quase sete mil militares, que todos os dias cumprem missões muito difíceis, dos quais temos muito orgulho e a população tem de ter muito orgulho, porque cumprem missões em condições muito difíceis, muitas vezes em que o desejo de desistir, ou o desejo de ir pelo caminho mais rápido e mais simples nos ocorre. Só que temos de ter a força de vontade para não o fazer. E isso é o nosso juramento, isso é ser militar. Ser militar não é o emprego normal. Se fosse o emprego normal, era uma coisa completamente diferente.
Mas nesse caso, recordo, o que estava em causa era os militares entenderem que havia risco para a sua própria segurança, dadas as condições do navio.
Esse risco provámos que não existia. O navio, claro, não estava nas condições ideais, mas também aceitámos isso e já o declarámos diversas vezes. Esse risco é uma alegação que os militares fizeram, na nossa modesta opinião, mas não é modesta, porque é a opinião da organização, não é? Foi uma fuga para a frente para se defenderem. E eles têm o direito de defesa e o que quiserem alegar. No entanto, provámos isso e o navio continuou a navegar. Depois teve uma segunda avaria. Infelizmente para nós essa segunda avaria não teve nada a ver com as avarias anteriores. Foi um erro de procedimento que fez com que as válvulas de combustível que alimentavam os motores fossem fechadas numa determinada situação e os motores ficaram sem combustível e apagaram-se. Mas a coisa que estes senhores, que estes militares, alegavam é que o navio ficaria em perigo se os motores parassem. E os motores pararam na semana seguinte e o navio não ficou em perigo, não morreu ninguém. Foram lá dois rebocadores, trouxeram o navio, porque estávamos numa operação com muita segurança. A operação, tinha sido dito, que em caso de emergência se o comandante não se sentisse confortável, podia voltar para trás. Portanto, a missão era importante e era relevante naquela altura e tínhamos de correr alguns riscos. Não eram riscos de vida, eram alguns riscos que foram corridos, mas nós militares corremos riscos. Faz parte da nossa missão.
O senhor Almirante esteve nesse dia a bordo do navio Mondego e agora, há poucos dias, esteve também a bordo de um outro navio, o Arpão, que é um submarino da Armada Portuguesa. O que é que tirou daqueles dias, de uma missão histórica, especial, de estar no Ártico com um submarino convencional?
Podemos ver a missão numa perspetiva quase romântica, não é? De um submarino convencional fazer um ato difícil, que é passar por baixo da calote polar. Vejo isto numa perspetiva muito mais pragmática e prática. Aquela zona é uma zona de saída de submarinos nucleares de potenciais adversários e se eles entrarem no Atlântico Norte, temos muita dificuldade em segui-los porque o Atlântico é imenso. E eles, para entrarem no Atlântico Norte, têm de passar em dois estreitos, muitos deles cobertos de gelo que os submarinos nucleares usam para se esconderem da deteção de meios aéreos e outros meios de deteção. E temos de conseguir bloqueá-los nessa saída. É estar à porta e bloqueá-los nesses tais estreitos. E para isso temos de conseguir operar debaixo do gelo. Como também temos de os conseguir bloquear, se for caso disso, no Atlântico Sul. No ano passado, testámos o nosso submarino no Atlântico Sul em águas muito quentes e provámos que conseguíamos operar o nosso submarino. Este ano fomos testar o nosso submarino nas condições extremas contrárias, a operar por baixo de uma placa de gelo, portanto, a calote polar. E isto é um sinal. É um sinal muito forte que damos não só aos nossos aliados, em termos da nossa capacidade, mas também aos futuros opositores, ou potenciais opositores, que em caso de necessidade temos capacidades e temos a vontade e o conhecimento para fazer operações onde mais lhes dói, que é precisamente nesses estreitos.
E já informou os aliados deste feito?
Claro, foi imediatamente visível. Aliás, fizemos isto com o apoio de três aliados: os Estados Unidos, o Canadá e a Dinamarca. Porquê? Porque viram imediatamente a utilidade deste tipo de operações. E o que fomos não foi dar um passeio, andámos a testar táticas que serão úteis em caso de necessidade. E é isso que é o objetivo militar. Além disso, estivemos a fazer operações exatamente naquelas áreas que são os tais estreitos por onde os submarinos nucleares sairão para dentro do Atlântico. Os submarinos opositores, se for o caso disso.
E porque é que o chefe do Estado-Maior da Armada tinha de estar a bordo nesta missão?
Por diversos motivos. Porque era uma missão difícil, muito mais difícil até em termos psicológicos do que em termos de preparação. Porque sou o decano dos submarinos na Marinha Portuguesa, porque fui eu quem deu a ordem. Esta ordem, esta missão era uma ideia minha há 14 anos quando fui o comandante da Esquadrilha de Submarinos. Não gosto de dar ordens difíceis e não ter a vontade de me arriscar como os outros. Portanto, preferi estar lá com eles e dar-lhes também a confiança que sabia o que estava a fazer, estava consciente do que estava a fazer e que eles não estariam em nenhum risco especial porque tínhamo-nos preparado para a missão com todos os cuidados. Porque as missões arriscadas preparam-se mitigando riscos e preparam-se com cuidado. Esta missão demorou. Estava há uns sete meses a ser preparada, mas já foi pensada há 14 anos. Portanto, há 14 anos que andamos a pensar como é que vamos fazer a missão e finalmente concretizámo-la.
O Almirante acentua muitas vezes que o grau de sofisticação dos sistemas que são operados na Marinha é muito elevado. Pergunto se a modernização da Marinha de Guerra está a acompanhar as necessidades?
É claro que está a acompanhar. Temos dificuldades em pessoal, como se sabe, isso é sabido e isso não é uma coisa que vai ser mitigada certamente. Os governos, e principalmente este governo, têm vontade de mitigar esse problema, ajudando ao recrutamento e à retenção, mas já é um problema que é geracional, é um problema que tem a ver com o número de jovens disponíveis na sociedade portuguesa, que tem a ver com muitos aspetos motivacionais. E o que temos de fazer é operar os marinheiros de silício com os marinheiros de carbono. Os marinheiros de carbono são os seres humanos e os marinheiros de silício são computadores com inteligência artificial, com capacidades extraordinárias que substituem em muito os seres humanos. Isso exige muita tecnologia. Sendo um país pequeno, com poucos recursos, é mais fácil investir nessa tecnologia para podermos cobrir as grandes áreas marítimas que temos com navios mais sofisticados que exigem menos pessoas, mas mais capazes até do que os navios anteriores com muito mais pessoas. Isso é um caminho que a Marinha está a fazer. Estamos a adquirir 17 navios novos, todos estes navios já são de uma nova geração, vão ter muito menos pessoas e são muito mais capazes de processar informação e de fazer ações quais em modo automático, o que evita usar uma grande componente humana no mar e com isso poupam-se recursos. As operações são mais sofisticadas, mas também mais seguras e, simultaneamente, mais capazes, porque esses sistemas a que chamo marinheiros de silício, porque os computadores são de silício, o marinheiro de silício não se cansa, não precisa de comer e não se distrai. E desde que bem-ensinado com a ética certa, comporta-se de forma muito estável, mesmo em situações de stress, e tem capacidade de processamento muito superior ao do ser humano para determinadas tarefas. Enquanto o ser humano tem uma cognição superior, o ser humano cansa-se com a repetição. Se tiver de fazer tarefas muito repetitivas, em que é exigida uma grande atenção, muito rapidamente se desgasta. Um computador nunca se desgasta, tem a capacidade de análise permanente, trata dados a uma velocidade extraordinária, faz comparações a uma velocidade extraordinária, tem uma memória gigantesca. Portanto, é esta conjugação que estamos a tentar encontrar nos novos meios.
Mas vai precisar cada vez mais de militares muito qualificados para operar todos estes sistemas, não é? Isso é difícil de conseguir nesta fase para a Marinha ou em geral para as Forças Armadas?
O que propomos à sociedade é um modelo em que trazemos jovens que se qualificam dentro das Forças Armadas. Não vamos buscar jovens já qualificados e agarramos nesses jovens e agora damos aqui um treino militar e o passam a ser um militar qualificado. Não! Nós trazemos jovens, qualificamos dentro das Forças Armadas através das nossas escolas de elevada qualidade e com elevada capacidade e, mais tarde, devolvemos à sociedade esses jovens muito mais qualificados. Alguns deles, por gosto, como aconteceu comigo e com outros, querem ficar nas Forças Armadas. É esse o modelo que devemos prosseguir para determinados sistemas em que a tal sofisticação é muito elevada. No entanto, há áreas em que o combate, apesar de ter elementos sofisticados, continua a depender muito de seres humanos. E, portanto, não há uma solução típica para tudo. Enquanto a Força Aérea e a Marinha são muito tecnológicas, o Exército também tem uma forte componente tecnológica, mas também tem uma parte menos tecnológica. E se pensarem no que está a acontecer está na guerra das trincheiras entre a Ucrânia e a Rússia, há muita tecnologia utilizada lá, mas os soldados que estão nas trincheiras são soldados, são seres humanos que têm de saber combater e que defendem as suas posições. E se não estiverem lá o inimigo consegue os seus objetivos.
Mas consegue olhar para a realidade atual, para o número de militares que tem neste momento ao serviço da Armada, e perceber quanto é que essa tecnologia vai poder fazer baixar o número necessário para operar?
Para uma Marinha equilibrada, precisávamos de cerca de 15 mil militares no modelo antigo e no modelo novo precisamos de cerca de 10 mil militares.
Portanto, ainda está abaixo.
Estamos muito abaixo disso. Por isso é que este modelo não é só com estes militares que vamos conseguir implementar. Agora, ao implementarmos, vai aliviar a carga sobre estes militares que temos, porque muitos destes militares trabalham num modelo antigo. Vou dar um exemplo: nos submarinos ninguém está na casa das máquinas, não é? Porque a casa das máquinas é vigiada à distância, tem sistemas de comando e controlo, tem sistemas periciais que estão permanentemente a verificar se as máquinas estão nos parâmetros normais. No navio antigo, quem vai lá medir os parâmetros é um homem que anda no meio da casa das máquinas a medir o manómetro de temperatura, o manómetro de pressão e tem de ir lá diversas vezes. E depois tem de ir mexer em válvulas, etc. Isso requer muito mais gente do que um sistema em que é um ser humano que está por trás de um computador, mas que esse computador já processa muita informação para o ser humano. E o ser humano toma decisões de alto nível, não está lá com as mãos, não é? Pois claro, tem de ter dois ou três indivíduos que se for preciso mexer com as mãos, que vão lá. Mas poupamos imenso. Para ter uma ideia, nos submarinos antigos a nossa guarnição eram 57 elementos. Nos submarinos novos são 33. É praticamente metade. E nos submarinos ainda mais recentes, se ainda for buscar tecnologia, se tiver os tais marinheiros de silício, se calhar precisa de 15 ou 16 militares e consegue ter uma capacidade ainda superior com menos militares. É esse o caminho e a tendência é essa.
Quando saem da marinha, depois dessa formação, têm uma qualificação igual, menor ou superior a uma qualificação técnica obtida no ensino superior civil?
Em termos académicos têm uma qualificação igual. Em termos práticos, uma qualificação superior. Porque eles praticam a sua ciência todos os dias em sistemas sofisticados e em situações extremas. Uma coisa é o engenheiro está a tomar conta de uma linha de montagem, sei lá, de enchimento de garrafas, aquilo é muito regular, pode ser complexo, mas é muito regular. O engenheiro que está a tomar conta do navio, um navio faz N operações e o mar um dia está alteroso, no outro dia está a calmo. Portanto, a variabilidade do sistema obriga a que aquele engenheiro seja um indivíduo extraordinário em termos práticos. E eles saem com essa componente. Não sei se têm ideia, se já ouviram falar de uma coisa que é um exercício que fazemos de robótica. A Marinha está muito avançada na área da robotização e da inteligência artificial. Somos os líderes e não somos líderes só nacionais. Estive há um mês e pouco em Washington, a falar sobre estes temas, e no Pentágono disseram-me claramente que o nosso exercício e a nossa conceptualização estava 10 anos avançado relativamente à média do que se está a fazer hoje. Eles admiram-nos. Portanto, somos os líderes nesta área. E nós tentamos contratar jovens e dizemos-lhes que se acabaram a licenciatura, agora terão de pagar o mestrado, o que exige um grande esforço para eles e para as suas famílias, mas se forem oficiais da Marinha ganham um ordenado razoável, damos-lhe alojamento e pagamos-lhes o mestrado. E se ele quiser, três anos depois pode ir embora sem ter de indemnizar ninguém e também lhe prometemos que nunca vai combater, porque precisamos deles na retaguarda. E já temos jovens a fazer isso com muito sucesso. Temos um departamento de desenvolvimento de ciência aplicada, que chamamos de Centro de Experimentação Operacional e Desenvolvimento Operacional, que é uma referência internacional e é uma referência da NATO. Só que, às vezes, há quase que um preconceito. Se um dia forem a um destes centros ver o que fazemos, as pessoas ficam admiradas. Fazemos coisas mesmo muito sofisticadas, são inventadas por nós, feitas por nós com as nossas mãos. Compramos componentes, mas não vamos importar ninguém para fazer as nossas coisas, até porque há algum secretismo nas coisas que fazemos.
Com essa atratividade não precisa do serviço militar obrigatório, certamente. Lançou essa discussão e depois explicou que não era bem o serviço militar obrigatório à antiga. Qual é a conclusão neste momento?
Vou tentar fazer o resumo das minhas posições e explicar a minha posição. Estamos perante um momento difícil na Europa e não posso olhar para a área militar como se fosse uma pequena bolha, neste caso a Marinha, que é uma bolha muito tecnológica, e achar que a solução daquela pequena bolha é o paradigma de todas as soluções. Tenho de pensar de uma forma mais alargada. A Europa, os Estados Unidos e outros países, mas mais a Europa, criou um sistema de forças armadas profissionalizadas. Ao fazer isso, o que é que fez? Reduziu muito o conhecimento na sociedade do que são as atividades militares. Portanto, se houver 30 mil pessoas na sociedade portuguesa, atualmente, úteis para a defesa, se calhar é muito. E, ao fazer isso, dificulta uma mobilização em caso de necessidade. Portanto, o que defendo é que temos de ter um modelo que permita uma mobilização rápida para os nossos jovens em caso de termos que nos defender. E esse modelo, isto não é na Marinha ou na Força Aérea, é um modelo muito mais alargado. Porquê? Porque enquanto se tivermos de operar fora as forças profissionais altamente competentes e muito tecnológicas são importantes, se tivermos de defender, somos todos que temos de nos defender. Pergunto sempre às mães: preferem ter o seu filho a ser recrutado para uma defesa com uma semana de treino ou um filho que ao longo do tempo foi tendo conhecimentos e foi adquirindo experiência para, se um dia tiver de defender o país, possa fazê-lo com o mínimo de condições e com o mínimo de conhecimento? Imagine o seguinte: se tivermos de criar uma força de defesa nacional em caso de invasão, é nesse dia que vamos pensar nisso ou devemos preparar a nossa população para isso? Como é que organizamos a população? Organizamo-nos de uma forma de guerrilha? Não nos organizamos? Temos estruturas próprias de comando e controlo? Não temos? As pessoas sabem usá-las? Sabem comunicar? Portanto, não defendo o modelo do serviço militar obrigatório antigo. O modelo que defendo é uma discussão pública para olharmos para o problema que está aqui à nossa frente e, olhando para esse problema, encontrarmos uma solução em conjunto, que tem de ser, claro, uma solução consensual. Não pode ser uma solução muito forçada, porque a solução muito forçada, sem vontade, não há capacidade. Agora, não podemos é meter a cabeça debaixo da areia e dizer que isso não vai acontecer, porque estamos aqui neste cantinho e antes a Europa toda vai ser conquistada até chegarem cá. E quando chegarem cá já não vale a pena defender-nos, não é? Porque senão não somos aliados de nada. Podemos ter de defender a Europa, portanto, quando digo defender o nosso país, não é o nosso país aqui em Portugal, o nosso país é o nosso espaço europeu. E podem ter certeza absoluta de que se a Europa for atacada e a NATO nos exigir, vamos morrer onde tivermos de morrer para defender a Europa, que é a nossa casa comum. Afinal, estamos a defender o nosso modo de vida, a democracia, os nossos sistemas, a nossa economia.
Isto que esteve a dizer nos últimos minutos e aquilo que vai acontecer nos próximos dias em Aveiro, é isso que a Marinha tem para mostrar à população? É mostrar que há aqui algo mais do que ser militar?
Sim. A Marinha é muito mais do que a parte militar. Nós temos a Autoridade Marítima e dentro da própria Marinha há uma conceptualização que devemos ser um catalisador da economia do mar. Porquê? Porque o mar é um novo domínio, é um novo desafio? Nós, quando fizemos os nossos descobrimentos, foi um desafio enorme para o país e o país conseguiu vencê-lo. Há neste momento um novo desafio, há uma nova fronteira. E essa fronteira é ir viver para o mar e explorar o mar de forma sustentável, porque tem de ser, mas explorar o mar, porque são dois terços do planeta. A Marinha tem de ajudar nesse processo e tem de ser um dos pilares básicos desse processo. Somos um pilar básico na defesa, na proteção da propriedade, entre aspas, mas também na estruturação da segurança dessa propriedade com a autoridade marítima e até no estudo científico desse meio, com o Instituto Hidrográfico, e catalisando uma nova indústria, uma nova industrialização para o país, que é a industrialização que tem a ver com a informática, com as tecnologias de informação, mas com a robotização. Com todo um conjunto de tecnologias que vamos precisar para operar no mar, para viver no mar e sustentarmo-nos no mar de forma inteligente. Um exemplo típico: quem é que há 20 anos atrás pensava que podíamos transformar o mar numa grande fonte de energia? E neste momento estão em projeto gigawatts de energia que podem ser geradas no mar. Esses gigawatts de energia é só o primeiro passo para a colonização do mar, porque depois será muito mais inteligente onde há energia fazer os produtos, do que transportar energia milhares de quilómetros para fazer um produto. Todas estas coisas vão mudar. Tenho esta visão, se calhar pode parecer um bocado louca, já serei velho ou já estarei morto nessa altura, mas até há pouco tempo fiz uma TED Talk em que disse que quando era jovem, nunca pensei ter um telemóvel. Pensava que era uma loucura, não é? Ter um pequeno aparelho que era rádio, televisão, comunicações e fazia tudo e mais alguma coisa. Os senhores hoje julgam que só se vive em terra e que será uma loucura viver no mar, mas nas vossas vidas vão ter cidades flutuantes no meio do mar muito prósperas. Isso vai mudar a geografia, a geopolítica, a geoestratégia e a geoeconomia. Portanto, estamos perante um novo mundo, um novo desafio e a Marinha acha, e eu acho que acha muito bem, que deve ajudar o país a olhar para esse novo desafio.
E depois de cada Dia da Marinha, como este que está a acontecer em Aveiro, isso reflete-se no sentido de aparecerem pessoas que ficam sensibilizadas e que aderem à causa?
Sim, isso acontece.
Sentem esse interesse?
Sim, sentimos esse interesse. E os dias da Marinha são importantes, internamente também, porque há uma autoimagem que esses dias transmitem,mas há uma imagem posterior que também beneficia muito o recrutamento e a própria retenção também, nessa imagem interior. De qualquer forma, o Dia da Marinha não é uma festa, é uma missão que temos uma vez por ano, que é mostrar à sociedade que paga para qualquer coisa que é útil.E essa coisa útil chama-se Marinha de Guerra Portuguesa, com todas as suas outras componentes, como a Autoridade Marítima e todas as outras componentes que tem, científicas, etc. Quando falamos de Marinha,a Marinha é um conceito mais alargado do que uma Marinha de Guerra. A Marinha de Guerra é a Armada. Além da Armada temos a Autoridade Marítima e temos outras coisas. Portanto, a Marinha é o chapéu, costumo dizer de uma forma muito simples que a Marinha deve ser o Estado no mar. Quando o Estado precisa de atuar no mar, tem um instrumento chamado Marinha. Esse instrumento pode ser uma Marinha militar ou uma Marinha não militar, mas por razões óbvias de racionalidade económica, essa Marinha deve ter uma logística e uma base comum. Por isso é que chamamos de Marinha. A Marinha é essa coisa que é a base comum.Umas vezes é a Armada, outras vezes é a Autoridade Marítima, outras vezes é a parte científica. Se me permite fazer aqui uma pequena brincadeira, são muitas Marinhas.Há dois modelos. Há o modelo das muitas Marinhas e o modelo de uma Marinha. Há a Marinha, a Guarda Costeira, a Guarda das Alfândegas do Mar. Portanto, há muitas Marinhas.No modelo das muitas Marinhas, imagine que um navio de guerra sai para o mar e encontra um pesqueiro a pescar em área ilegal. E então telefona para terra e diz à Marinha que controla a pesca que venha fazer o favor de tratar do caso. Anda mais um quilómetro e encontra um indivíduo a traficar droga e pede à Marinha que trata do tráfico de droga para ir tratar. Depois anda mais um quilómetro e vê um indivíduo a afogar-se e chama a Marinha que salva pessoas no mar. Depois, anda mais um quilómetro e vê o navio a poluir e, como não tem nada a ver, chamam a Marinha que trata da poluição. Anda mais um quilómetro e vê o navio fora do esquema normal de navegação e torna a chamar a Marinha responsável, que não é a Marinha de Guerra. Quando finalmente vê um navio de guerra, aí então já pode trabalhar. Ora, isto não faz sentido.
É isso que acontece?
Isto é o que se quer criar. Se não tivermos cuidado, andamos a desperdiçar recursos em pequenas marinhas sem capacidade, nunca constituindo uma Marinha com capacidade para ser o Estado no mar, o Estado em todas as suas necessidades.
Sendo que a Marinha tem o duplo uso, não é?
Este é o modelo que defendemos, é a tal Marinha duplo uso. O que é uma Marinha duplo uso? Faz tudo o que é militar e não militar com os mesmos meios e com as mesmas capacidades. O que é muito racional em termos económicos e é essa vantagem que andamos sempre a defender e andamos a defender há muito tempo. Aliás, há um escritor inglês que diz que este tipo de Marinha, como a nossa, são as pós-modernas, porque as outras são as modernas à antiga, que têm cegueira seletiva. Quando vão para o mar, só veem cinzento. Só que no mar há todo o tipo de atores e todo o tipo de atividades. O mar não tem fronteiras, elas estavam muito separadas, agora estão muito unidas. A Federação Russa e outros países diferentes dizem o seguinte: para quem só vê cinzento, baralhamos as cores. Usamos a droga, a poluição, tudo o que puder afetar o outro Estado faz parte dos instrumentos de poder. Isso chama-se guerra híbrida. E quem tem Marinhas muito cinzentas, a tal Marinha moderna à antiga, a que chamamos Marinha moderna, mas não é uma Marinha pós-moderna, não consegue perceber as ligações de todos estes fenómenos. E nós não. Nisso somos uns privilegiados. O nosso modelo é mesmo muito bom e mostramos na NATO e noutras operações que quando fazemos essas operações, porque temos esse modelo e porque estamos treinados a ver as outras coisas, conseguimos ver mais coisas que os outros não conseguem ver.
Mas sabe a quantas portas é que tem de bater para convencer algumas pessoas a ter essa Marinha e não as Marinhas?
Bato sempre à mesma porta, que é da minha tutela a quem explico as coisas, e da opinião pública, como é evidente, quando me pedem para explicar porque é que defendemos este modelo. De forma pública, defendemos este modelo e é um modelo que tem servido Portugal há muitos anos. Somos a Marinha com mais anos enquanto estrutura. Temos mais de setecentos anos. Fizemos muitos erros, mas aprendemos muita coisa. Agora não podemos é repetir erros. Quem tem poucos recursos vai dividir os recursos todos, tipo migalhas, para atuar num espaço gigantesco que é o espaço português. O espaço português marítimo, não sei se o público tem esta noção, mas é do tamanho da Europa. O país é uma migalha na Europa e está aqui isolado no canto sudoeste, mas no mar é central. É central à NATO, é central ao espaço europeu, porque no nosso mar passam quase todos os produtos da economia europeia. Agora, podemos abdicar disso e dizer que não temos interesse nenhum e que venha alguém que tome conta disto. E nesse dia perdemos independência.
Olhando para a atualidade, para o atual contexto político, sente falta de alguma task force em alguma área específica?
Se me permitir, não quero comentar política, porque a política é dos políticos, eu sou militar. Julgo que o nosso país, como cidadão, o nosso país tem muitos problemas que tem de resolver. E muitas vezes, quando temos muitos problemas, ficamos confusos, em termos das prioridades, etc. Agora, não vejo nenhum outro método que não seja um método democrático. O que é perigoso é simplificação de soluções. É haver certas forças políticas que advogam soluções muito simplificadas e que podem ser muito atraentes em termos mediáticos, mas que podem ser perigosas depois em termos de execução. Julgo que o equilíbrio está ao centro. O centro deve ser forte e deve encontrar soluções dentro do que é a democracia. E neste momento também não vejo partidos que queiram subverter a democracia no sistema político português. O resto é política. E à política os políticos. Eu sou militar.
O Sr. Almirante falou de as pessoas verem o que é que é estão a pagar para a Marinha. Já agora, queria que nos fizesse um ponto da situação em relação a alguns custos e investimentos que estão a ser feitos e que têm a ver, por exemplo, com o programa dos navios patrulho-oceânicos, com o navio polivalente, com a capacidade de combate de algumas das unidades especiais da Marinha, que algumas têm ganho mais ou menos visibilidade nos últimos tempos. Está tudo dentro dos prazos?
Sim. Felizmente temos um programa para adquirirmos 17 navios. A maior parte deles já foi contratada e em tempo. No primeiro semestre, quando muito, passando um a dois meses no segundo semestre, vamos contratar os outros navios. E depois, é um processo contínuo de renovação e felizmente os governos perceberam a necessidade e na LPM (n.d.r. Lei de Programação Militar), estão vertidas as verbas necessárias. Ora, esta é uma renovação de uma Marinha que foi planeada num determinado contexto. Estamos num contexto muito mais gravoso neste momento e em democracia é o poder político que decide essas coisas. Isso tem de ser equacionado em termos do risco de estarmos desfasados em termos de capacidades e perigos.
O Sr. Almirante defende a aceleração?
Defendo a aceleração, mas não sou político. Não fui eleito. Quem é eleito é que tem essa responsabilidade de decidir se o momento é ou não adequado para essa aceleração.
