Governo espanhol quer anular proibição de uso de instalações por muçulmanos em Jumilla
Para o Governo, uma celebração que se realiza há anos está a ser "arbitrariamente restringida", violando o direito fundamental à liberdade religiosa da comunidade muçulmana
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O governo espanhol pediu à Câmara Municipal de Jumilla (Múrcia) para anular o acordo sobre utilização das instalações desportivas municipais, que proíbe uso para eventos da comunidade muçulmana, por considerar que viola a liberdade religiosa.
Segundo fontes governamentais, o pedido, apresentado pelo delegado governamental e coordenado com os ministérios da Justiça e da Política Territorial, sustenta que o regulamento permite a utilização do polidesportivo para atividades socioculturais e, por isso, considera que "as razões objetivas invocadas são infundadas".
Para o Governo, uma celebração que se realiza há anos está a ser "arbitrariamente restringida", violando o direito fundamental à liberdade religiosa da comunidade muçulmana.
O conselho municipal de Jumulla, uma cidade de 27 mil habitantes localizada na região de Múrcia e que é governado pela direita (Partido Popular), tinha proibido a organização de festas religiosas em ginásios ou estádios, visando indiretamente celebrações muçulmanas, uma decisão que gerou polémica no país e foi qualificada como “absolutamente racista” pelo Governo (esquerda).
A medida foi uma proposta e uma condição do Vox (extrema-direita) para dar o seu apoio e aprovar os orçamentos municipais apresentados pela presidente da câmara do PP.
Concretamente, as festas muçulmanas, como a do sacrifício do cordeiro ou a do fim do mês de jejum do Ramadão, deixaram assim de poder ser realizadas nesses espaços, como acontecia até agora.
Confrontada pela agência EFE, a Câmara Municipal de Jumilla recusou comentar a contestação do Governo, dizendo que "não haverá qualquer declaração" do município.
Por sua vez, o presidente do Vox na Região de Múrcia, José Ángel Antelo, disse à EFE que o pedido apresentado pelo governo é a estratégia de um "governo mafioso, que tenta encobrir os seus escândalos com uma polémica que não é real".
Esta polémica surgiu algumas semanas após confrontos noutra cidade da região, Torre Pacheco, palco de várias noites de distúrbios provocados por grupos de extrema-direita, depois de um reformado ter denunciado uma agressão por três jovens de origem magrebina.
Jumilla é conhecida pelo seu vinho e, como em toda a zona, acolhe uma importante população muçulmana que trabalha essencialmente no setor agrícola.
