As moções foram apresentadas pelos deputados da esquerda radical, depois de o primeiro-ministro ter usado por duas vezes o artigo 49.3 para adotar, sem votação, o Orçamento Geral do Estado e parte do Orçamento da Segurança Social
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O governo francês enfrenta, esta quarta-feira, 5 de fevereiro, duas moções de censura, mas sem grande preocupação. As moções foram apresentadas pelos deputados da esquerda radical, A França Insubmissa, depois de o primeiro-ministro, François Bayrou, ter usado por duas vezes o artigo 49.3 para adotar, sem votação, o Orçamento Geral do Estado e parte do Orçamento da Segurança Social.
Tanto o Partido Socialista como o partido de extrema-direita, União Nacional, não vão votar a favor das moções. A aliança na Nova Frente Popular tenta convencer os deputados do PS a não seguir as ordens do partido.
A aliança de esquerda pode sobreviver a uma tal divisão estratégica?
Ainda há esperança entre os ecologistas. A porta-voz do grupo, Léa Balage El Mariky, não reconhece o fim da coligação de esquerda. "O nosso compromisso dentro do novo Front Populaire é também melhorar o quotidiano das francesas e dos franceses. Da mesma forma que os ecologistas e os insubmissos estiveram presentes para fazer avançar os textos no nicho parlamentar dos socialistas, sei que os socialistas, os insubmissos e os comunistas estarão presentes para fazer avançar os textos ecologistas que serão apresentados a 20 de fevereiro", defende.
Talvez nem tudo esteja perdido, acredita também o presidente do grupo comunista, André Chassaigne. "Espero que tenhamos a oportunidade de nos reunir todos à volta de uma mesa e ver juntos se podemos ainda ser úteis, avançando juntos para o futuro do nosso país", acrescenta o comunista.
Por sua vez, no lado d'A França Insubmissa há menos otimistas. Eric Coquerel é presidente do partido de esquerda radical na comissão de Finanças na Assembleia e apela a uma oposição forte. "O Orçamento determina quem está na oposição e quem está na maioria. Quando se tem um 49.3, só a moção de censura permite opor-se. Se não votar a moção de censura, um opositor deixa de ser opositor, passa a estar na maioria do Governo. Se está na maioria do Governo, como socialista, trai os seus compromissos", descreve.
"Traidor, submissos dos macronistas, cobardes", ouve-se ainda na ala dos insubmissos. Nada disto faz tremer Arthur Delaporte, do grupo socialista: "Não é porque me chamam traidor hoje que amanhã não dirão: 'Temos de partir juntos', porque amanhã, face à ameaça da extrema-direita, é necessário que a esquerda tenha uma candidatura comum em 2027", lembra o socialista. Uma candidatura comum que não seja a de Jean-Luc Mélenchon, insiste o Partido Socialista.
Os socialistas anunciaram que vão apresentar a própria moção de censura na próxima semana, em defesa dos "valores da República".
