Grécia cumpre 1.º dia de luto enquanto prosseguem buscas por sobreviventes no Mediterrâneo
Dois barcos de patrulha, um helicóptero e seis outros navios estão a fazer buscas nas águas a oeste da península do Peloponeso, uma das zonas mais profundas do Mediterrâneo.
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A Grécia prossegue esta quinta-feira com a busca por sobreviventes, um dia depois de um barco de pesca sobrelotado de migrantes ter naufragado no Mar Jónico.
A guarda costeira adianta que 78 corpos tinham sido recuperados até agora, mas receia-se que o número de vítimas atinja as centenas.
"Esta pode ser a pior tragédia marítima na Grécia nos últimos anos", disse Stella Nanou, do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), à emissora estatal ERT, citada pela agência de notícias AFP.
"É realmente horrível", disse à AFP a funcionária do ACNUR Erasmia Roumana, acrescentando que os sobreviventes estão "numa situação psicológica muito má".
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"Muitos estão em estado de choque, estão muito abalados", sublinhou. "Muitos deles preocupam-se com as pessoas com quem viajaram, com as suas famílias ou amigos. Querem telefonar às suas famílias e dizer-lhes que chegaram."
Um porta-voz disse à AFP que dois barcos de patrulha, um helicóptero e seis outros navios estão a fazer buscas nas águas a oeste da península do Peloponeso, uma das zonas mais profundas do Mediterrâneo.
Até agora, 104 pessoas foram resgatadas, mas, com base nos testemunhos dos sobreviventes e no facto de não haver mulheres e crianças entre os números conhecidos, teme-se que outras centenas estejam ainda desaparecidas.
O porta-voz do Governo, Ilias Siakantaris, disse na quarta-feira que havia relatos não confirmados de que até 750 pessoas estavam no barco. "Não sabemos o que havia no porão, mas sabemos que vários contrabandistas prendem as pessoas para manter o controlo", disse à ERT.
A Grécia declarou três dias de luto pela tragédia.
"Um jovem começou a chorar e disse: 'Preciso da minha mãe. Esta voz está nos meus ouvidos. E estará sempre'", disse à AFP a enfermeira da Cruz Vermelha Ekaterini Tsata.
Perto de 30 pessoas foram hospitalizadas com pneumonia e exaustão, mas não correm perigo imediato, disseram ainda as autoridades.
Segundo a AFP, a guarda costeira trouxe metade das vítimas para Kalamata na quarta-feira, e uma fragata da marinha grega trará os restantes corpos ainda esta quinta-feira.
Um sobrevivente disse aos médicos do hospital em Kalamata que tinha visto uma centena de crianças no porão do barco, avançou a ERT.
"O barco de pesca tinha 25-30 metros de comprimento. O convés estava cheio de pessoas, e presumimos que o interior estava igualmente cheio", disse o porta-voz da guarda costeira Nikolaos Alexiou à ERT.
A guarda costeira disse que um avião de vigilância da agência europeia Frontex tinha avistado o barco na tarde de terça-feira, mas os passageiros tinham "recusado qualquer ajuda".
O motor do barco falhou pouco antes das 23h00 (00h00 em Portugal) de terça-feira e a embarcação virou nas águas mais profundas do Mediterrâneo, disse Siakantaris.
Os sobreviventes são nomeadamente da Síria, Egito e Paquistão, afirmou a guarda costeira, e estão temporariamente alojados num armazém do porto para serem identificados e entrevistados pelas autoridades gregas, que estão à procura de possíveis contrabandistas.
Juntamente com a Itália e a Espanha, a Grécia tem sido um dos principais pontos de desembarque para dezenas de milhares de pessoas que procuram chegar à Europa vindas de África e do Médio Oriente.
De acordo com os registos da AFP, a pior tragédia de migrantes na Grécia foi em junho de 2016, quando pelo menos 320 pessoas foram dadas como mortas ou desaparecidas num naufrágio perto de Creta.