O governo grego está a planear "mais do que uma hipótese" no âmbito das negociações com os parceiros europeus, disse o ministro-adjunto grego para as relações económicas internacionais, Euclid Tsakalotos.
Corpo do artigo
«Ninguém vai para uma negociação revelando qual é o seu plano B ou C. Mas obviamente que estamos a planear mais do que uma hipótese, e em simultâneo também pensamos naquilo que as pessoas consideram ser o melhor para a Europa, caso não seja garantido um acordo no imediato», referiu numa entrevista por telefone a partir de Atenas, à agência Lusa.
O responsável grego, 55 anos e com formação na área económica, foi eleito duas vezes consecutivas deputado pelo Syriza, o partido da esquerda radical que venceu as legislativas de 25 de janeiro e lidera o atual Executivo.
As difíceis negociações entre Atenas e o Eurogrupo dominaram o primeiro mês do mandato do Executivo de Alexis Tsipras, com o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis a assumir particular protagonismo, até ao anúncio de um «programa de transição» em 20 de fevereiro que deverá expirar no final de junho.
«O Governo grego negociou um compromisso onde há algumas coisas que garantimos, por exemplo não existir um compromisso para um excedente orçamental primário de 3%, não existir compromisso para fechar a quinta avaliação [da 'troika' internacional] e muitos outros aspetos que pretendíamos aplicar e com os quais concordámos com os nossos parceiros, como o combate à evasão fiscal ou à corrupção», recorda.
No entanto, Tsakalotos reconhece que Atenas não teve «muito tempo» para negociar o novo acordo, e quando o anterior programa negociado entre o ex-governo e os credores internacionais estava a terminar.
«De alguma forma consideramos que foi uma falta de tempo artificial, porque ao anterior governo tinha sido sugerida uma extensão por mais seis meses do programa, mas apenas decidiram uma extensão de dois meses [até ao final de fevereiro] precisamente para colocar pressão sobre o governo que lhes sucedeu, por outras palavras, nós», sublinha.
O académico, agora em funções governativas, autor de seis livros e de numerosos artigos sobre assuntos económicos e políticos publicados em diversos jornais de revistas, assinala que este acordo transitório é um compromisso, pelo que algumas medidas inscritas no programa de governo do Syriza não vão ser aplicadas no imediato.
«Foi isso que o ministro das Finanças Yanis Varoufakis quis dizer ao referir-se ao adiamento na aplicação de algumas promessas eleitorais», regista.
A abordagem face à dívida grega, que no total ascende a 316 mil milhões de euros, é definida como crucial por Euclides Tsakalotos.
Num cenário de profunda recessão económica que se prolongou por quase seis anos consecutivos e que emite frágeis sinais de retoma, o ministro-adjunto admite a dificuldade em atrair investimento direto estrangeiro, ou interno. E recorda que «pela nossa experiência em história económica, nos períodos de grandes recessões raramente o investimento privado lidera».
«Em simultâneo também pensamos que é muito difícil conseguir investimento para o programa que se vai seguir a partir de junho caso não se obtenha um acordo sobre a dívida», alerta, antes de censurar os anteriores governo por não tentarem obter um acordo sobre esta questão.
O economista e político grego recusa o rótulo de «partido populista» que tem sido atribuído ao Syriza, ao recordar que «não prometemos tudo a toda a gente» e que foi elaborada uma «hierarquia de medidas específicas» que pretendem aplicar, com a prioridade centrada no que designam por "crise humanitária" num país que desde 2010 registou um acentuado empobrecimento da população, um desemprego galopante e uma queda de 25% do seu PIB.
«Uma fraqueza do "programa de transição» foi a ausência de um compromisso firme da outra parte para o financiamento. E isso coloca alguma pressão. «Mas penso que no espírito e na letra deste programa nos foi dado tempo para aplicar as reformas que prometemos».
Assim, Euclid Tsakalotos espera que o seu país não seja julgado ou avaliado na base do anterior programa assente no memorando com a troika mas antes no «programa de reformas» acordado em 20 de fevereiro.