Guiné-Bissau: Ban Ki-moon alerta para aumento do narcotráfico desde golpe de Estado
O narcotráfico está a aumentar na Guiné-Bissau desde o golpe de Estado de abril, e a situação humanitária degradou-se, exigindo resposta mais firme e concertada da comunidade internacional, alertou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
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O alerta consta do último relatório de Ban Ki-moon sobre as atividades da ONU na Guiné-Bissau, a que a Lusa teve acesso, enviado nos últimos dias aos membros do Conselho de Segurança, que irão reunir-se para consultas sobre o país na próxima quinta-feira.
Desde o golpe de Estado de 12 de abril, «há registo de aumento das atividades de tráfico de droga» no país, escreve o secretário-geral da ONU.
O mesmo alerta foi feito recentemente ao Conselho de Segurança pelo representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental, Said Djinnit, que disse que as redes de narcotráfico estão mais ativas e influentes nos últimos meses.
Na mesma ocasião, o diretor da agência da ONU anti-narcotráfico e criminalidade organizada (UNODC), Yuri Fedotov, afirmou que a situação na Guiné-Bissau «continua a ser séria preocupação» e que «há medos em relação às ligações entre elementos das forças militares e narcotráfico».
Ban Ki-moon diz no relatório que a situação de fragilidade política na Guiné-Bissau reduziu «significativamente» a capacidade de policiamento, criando «uma oportunidade de intensificar o crime internacional organizado e o tráfico de droga».
Apela à comunidade internacional para se envolver mais no combate ao fenómeno «através de apoio financeiro, infraestrutural, logístico e operacional», mantendo-se «empenhada em lidar com esta ameaça não só na Guiné-Bissau, mas também nos países de origem, trânsito e destino de drogas».
Sobre a situação humanitária na Guiné-Bissau, o secretário-geral fala numa degradação desde o golpe de Estado, considerando «crítico que a comunidade responda de maneira apropriada para lidar com as necessidades urgentes da população guineense».
O gabinete da ONU em Bissau, liderado por Joseph Mutaboba, está atualmente a rever as suas prioridades para reforma do aparelho de segurança no período 2012-13, na sequência do golpe militar.
O golpe foi «um sério revés» para a «paz, estabilidade e desenvolvimento» no país e, apesar da «condenação unânime internacional» e da «liderança da comunidade regional (CEDEAO)» na busca de uma solução pacífica, os esforços têm sido insuficientes, afirma.
«Há uma necessidade urgente de que os parceiros regionais e internacionais concordem numa resposta harmonizada aos desenvolvimentos no país», escreve Ban Ki-moon.
É «imperativo», adianta, que os parceiros desenvolvam uma «resposta unificada», em particular em relação à «total e efetiva reposição da ordem constitucional», tal como determinado na resolução do Conselho de Segurança após a crise.
A raiz do problema é a incapacidade de os líderes militares entrarem «num diálogo sério e genuíno de reconciliação nacional», e o persistente recurso à força para fins políticos, num clima de impunidade manifesto na incapacidade de investigar criminalmente vários assassínios políticos desde 2009.
«A estabilidade política na Guiné-Bissau vai continuar a ser um objetivo inatingível se a impunidade não for expurgada da sociedade», escreve Ban Ki-moon.