Guterres "alarmado" com expansão dos planos militares de Israel na Faixa de Gaza: "Precisamos de um cessar-fogo, agora"
A ofensiva israelita no enclave palestiniano já matou mais de 53 mil pessoas, obrigou 2,4 milhões de habitantes a deslocarem-se várias vezes em busca de refúgio e provocou uma catástrofe humanitária
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reforça o apelo para um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza, depois de Israel ter anunciado uma expansão das operações militares no território palestiniano.
“Precisamos de um cessar-fogo permanente, agora”, sublinhou o líder da ONU, que discursava na cimeira anual da Liga Árabe, em Bagdade.
António Guterres confessou estar "alarmado com os planos de Israel", que este sábado anunciou a expansão dos seus ataques no enclave palestiniano, e defendeu a necessidade de aplicar uma solução de dois Estados para o conflito israelo-árabe, um caminho que qualificou como “imperativo”, embora tenha também reconhecido que está “distante”.
“O mundo, a região e, acima de tudo, os povos da Palestina e de Israel não podem dar-se ao luxo de ver a solução de dois Estados desaparecer diante dos seus olhos. Este objetivo nunca foi tão imperativo, mas infelizmente também parece mais distante”, afirmou.
Guterres aguarda com expectativa a “importante oportunidade” de uma conferência de alto nível sobre o conflito, prevista para junho e copresidida pela França e pela Arábia Saudita.
O secretário-geral da ONU condenou o ataque “atroz” do Hamas de 7 de outubro de 2023, mas advertiu que “nada pode justificar a punição coletiva do povo palestiniano”. Apelou para “um cessar-fogo permanente, agora”, para a libertação incondicional dos reféns e para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Mostrando-se preocupado com as notícias sobre os planos israelitas para expandir as operações militares terrestres, António Guterres reiterou que “as Nações Unidas não participarão em qualquer operação dita humanitária” controlada pelos militares.
Guterres também rejeitou o deslocamento “repetido” da população da Faixa de Gaza.
“Obviamente rejeitamos qualquer deslocamento forçado para fora de Gaza”, disse, condenando a “anexação ilegal” e os “assentamentos ilegais” na Cisjordânia.
Guterres também mencionou a situação no Líbano, para defender a “soberania e integridade territorial do Líbano” em referência à presença militar israelita no sul do Líbano.
Para a Síria, o líder da ONU apontou a soberania, a independência, a unidade e a integridade territorial como pontos críticos do processo político aberto, que deve ser, disse, “inclusivo e envolver todos os sírios, independentemente da sua etnia e religião”.
O discurso também incluiu menções ao Iémen, Sudão, Somália, Líbia, Iraque e ao trabalho da Liga Árabe em geral.
“Espero sinceramente que as disputas pendentes terminem com uma solução justa alcançada com diálogo”, concluiu.
Em resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023 do grupo islamita palestiniano Hamas - que fez 1200 mortos e 251 sequestrados -, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, propôs-se "erradicar" o movimento, e o seu Exército lançou horas depois uma ofensiva destruidora em Gaza que causou mais de 53 mil mortos, obrigou os 2,4 milhões de habitantes a deslocarem-se várias vezes em busca de refúgio e provocou uma catástrofe humanitária.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território.
No início de maio, o Governo de Netanyahu anunciou um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, lamentou na sexta-feira a escalada dos ataques israelitas na Faixa de Gaza, alertando para uma "limpeza étnica" do povo palestiniano em curso.
"Esta última vaga de bombardeamentos, que obriga as pessoas a deslocarem-se sob a ameaça de ataques ainda mais intensos, a destruição metódica de bairros inteiros e a recusa de ajuda humanitária sublinham que parece haver um impulso para uma mudança demográfica permanente em Gaza que desafia o direito internacional e equivale a uma limpeza étnica", denunciou Volker Türk num comunicado.
A escalada de ataques esta semana na Faixa de Gaza, incluindo os ataques israelitas a hospitais, está a agravar a "já desesperada" situação humanitária e pressagia uma situação "ainda pior", acrescentou.
O Alto-Comissário teme que se trate do início de uma ofensiva israelita "ainda mais vasta" e apela a todas as partes para que ponham termo à situação.
"Temos de pôr fim a esta loucura", sublinhou.
