Guterres é agora "português e timorense". Ana Gomes fala em homenagem "absolutamente justa"
À TSF, Ana Gomes afirma que, 25 anos depois do referendo que deu independência a Timor-Leste, o país "está muito melhor" e destaca alguns progressos
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António Guterres é, a partir desta sexta-feira, cidadão timorense. No dia em que se comemoram os 25 anos do referendo que abriu portas à independência, o Parlamento de Timor-Leste atribuiu a nacionalidade a Guterres, destacando, assim, o papel fundamental do secretário-geral das Nações Unidas na defesa da autodeterminação de Timor-Leste e a "prestação de altos serviços" ao país ao longo de várias décadas. A cerimónia teve uma espectadora muito especial: Ana Gomes, que, há 25 anos, era a embaixadora de Portugal na Indonésia, considera, em declarações à TSF, que a distinção atribuída a Guterres é mais do que merecida.
"Absolutamente justa. Ele estava emocionado quando teve essa notícia diante de todos nós no Parlamento. Quando António Guterres, logo a seguir, tomou a palavra, via-se que a sua voz estava claramente emocionada. Ele próprio disse que, a partir de agora, o secretário-geral das Nações Unidas não era apenas português, era português e era timorense. Nos discursos e as intervenções que ele tem tido, vem sempre sublinhando que não é Timor que deve muito às Nações Unidas, é também as Nações Unidas que devem um extraordinário exemplo de fé na democracia a Timor-Leste", explica à TSF Ana Gomes.
António Guterres manifestou um "profundo orgulho" por lhe ter sido atribuída a nacionalidade timorense pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste, destacando que a partir de agora as Nações Unidas têm um secretário-geral que é português e timorense. "Sinto um profundo orgulho e um profundo reconhecimento. A causa de Timor-Leste foi uma causa fundamental da minha vida política durante muitos anos e tenho pelo povo timorense, pela resistência timorense uma enorme admiração e isto é uma honra", disse Guterres.
O parlamento de Timor-Leste atribuiu por unanimidade a nacionalidade timorense a António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, pela "prestação de altos e relevantes serviços ao país" ao longo de várias décadas. Guterres recordou os seus esforços para a causa timorense, enquanto primeiro-ministro de Portugal, junto da comunidade internacional, "que ainda foi possível mobilizar" para que interviesse e assim "a paz e a segurança prevaleceram em Timor-Leste".
"Vê-se ordem, disciplina, progresso e obras"
Entrevistada pela TSF, Ana Gomes faz um balanço do caminho andado até aqui. "Está muito melhor", garante. "Eu tenho vindo com alguma regularidade a Timor-Leste ao longo destes anos todos. A última vez foi há dois anos. A cidade está completamente arranjada, claro, para estas celebrações, mas vê-se ordem, disciplina, progresso, obras, muitas obras. Há, de facto, um fervilhar que tem muito impacto no dia a dia da população", descreve.
Ana Gomes dá o exemplo de um troço de uma autoestrada, que percorreu "no caminho da fronteira de Timor ocidental para Díli". "Claro que ainda há muito a fazer, mas há muitos indicadores que demonstram como foi impressionante o progresso feito nestes 25 anos. Eu já sabia que os timorenses tinham qualidades organizativas e grande empenho, mas houve um notável progresso nas capacidades profissionais", acrescenta.
Em 30 de agosto de 1999, 78,5% dos timorenses que votaram no referendo escolheram a independência do país e consequentemente o fim da ocupação da Indonésia, que invadiu Timor-Leste em 07 de dezembro de 1975.
Com o resultado do referendo, a Indonésia abandonou Timor-Leste, com as milícias pró-indonésias a deixarem um rasto de horror e violência, tendo entrado a autoridade de transição das Nações Unidas, que geriu o país até à restauração da independência, em 20 de maio de 2002.