Esta terça-feira, Abdelaziz Bouteflika, presidente argelino durante 20 anos, renunciou ao cargo.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou esta quarta-feira esperar que a Argélia viva "uma transição pacífica e democrática" após a renúncia do Presidente Abdelaziz Bouteflika, que durante 20 anos deteve o poder naquele país.
"O secretário-geral saúda a calma e o respeito demonstrado pelo povo argelino ao expressar o seu desejo de mudança", indicou um comunicado divulgado pela equipa de António Guterres, no mesmo dia em que o Conselho Constitucional da Argélia aceitou a renúncia de Bouteflika.
António Guterres "deseja uma transição pacífica e democrática que reflita os desejos do povo argelino", refere a mesma nota informativa, reafirmando "o compromisso contínuo das Nações Unidas de apoiar a Argélia no (seu) processo de transição democrática".
Após cerca de seis semanas de intensos protestos nas ruas, Bouteflika, de 82 anos, notificou oficialmente, na terça-feira, o Conselho Constitucional argelino da sua renúncia.
Segundo a Constituição argelina, e a partir do momento que a renúncia de Bouteflika foi formalizada, o presidente do Conselho da Nação (a câmara alta do parlamento), Abdelkader Bensalah, de 77 anos, passou a assegurar a Presidência interina durante um período máximo de 90 dias durante o qual serão organizadas eleições presidenciais.
Desde finais de fevereiro, a Argélia tem sido palco de várias manifestações que foram inicialmente convocadas contra a candidatura a um quinto mandato de Bouteflika, debilitado devido a um AVC em 2013.
Face a uma contestação popular inédita desde a sua eleição para a chefia do Estado há 20 anos, Bouteflika renunciou a 11 de março a disputar um quinto mandato presidencial, mas propôs um plano alternativo.
Abdelaziz Bouteflika decidiu então prolongar o atual mandato ao adiar as presidenciais 'sine die' até que fosse realizada uma "Conferência Nacional", que deveria elaborar uma nova Constituição.
As presidenciais na Argélia estavam inicialmente previstas para 18 de abril.
Tanto a oposição como a sociedade civil argelinas rejeitaram este plano, argumentando que ele permitia que Bouteflika se mantivesse no poder sem eleições, além do final constitucional do seu mandato a 28 de abril.
O plano também foi rejeitado de forma categórica pelos manifestantes nas ruas, cuja mobilização não enfraqueceu nas últimas semanas.
Abdelaziz Bouteflika ficou ainda mais isolado nos últimos dias quando o chefe do Estado-Maior do exército argelino e até à data um aliado do líder argelino, o general Ahmed Gaid Salah, pediu que o Presidente fosse declarado inapto para exercer as suas funções devido à sua "doença grave e duradoura".