O uso da força em operações policiais deve respeitar as leis e normas internacionais de direitos humanos, acredita
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, está "profundamente preocupado" com o elevado número de vítimas durante uma megaoperação policial na cidade brasileira do Rio de Janeiro e instou as autoridades a conduzirem uma investigação imediata.
No seu briefing diário à imprensa, em Nova Iorque, o porta-voz de Guterres frisou que o uso da força em operações policiais deve respeitar as leis e normas internacionais de direitos humanos.
"O secretário-geral está profundamente preocupado com o grande número de vítimas durante uma operação policial realizada ontem [terça-feira] no Rio de Janeiro", disse Stéphane Dujarric.
"O secretário-geral salienta que o uso da força em operações policiais deve respeitar as leis e normas internacionais de direitos humanos e insta as autoridades a conduzirem uma investigação imediata", concluiu.
Cerca de 2500 polícias realizaram, na terça-feira, uma megaoperação nas comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, destinada a prender os líderes da organização criminosa Comando Vermelho.
A polícia do Rio de Janeiro contabilizou esta quarta-feira 119 mortos, entre os quais quatro polícias, e 113 detidos em resultado da megaoperação contra o Comando Vermelho, elevando o número inicialmente divulgado pelo governo do Rio de Janeiro de 64 mortos.
Em conferência de imprensa, o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro frisou que esta ação foi "o maior baque" que o Comando Vermelho já teve, desde a sua fundação, e que "nunca houve perda [para o grupo] tão grande de drogas, armas e lideranças".
Por seu turno, a Defensoria Pública (o equivalente brasileiro ao sistema português de apoio judiciário) do Rio de Janeiro disse que morreram 132 pessoas na sequência da megaoperação, depois de terem sido encontrados esta quarta-feira cerca de 60 corpos.
A Defensoria Pública, encarregada de oferecer assistência jurídica gratuita, divulgou o novo número de mortos após moradores dos bairros afetados terem estado à procura de familiares desaparecidos e começado a reunir dezenas de corpos numa praça.
Organizações não-governamentais e o próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) já vieram criticar a brutalidade da operação.
Cerca de 30 organizações de defesa dos direitos humanos assinaram um comunicado afirmando que a segurança no Rio de Janeiro "não se conquista com sangue" e que a operação, além de expor "o fracasso e a violência estrutural da política de segurança", coloca a cidade "num estado de terror".
O ministro da Justiça do Brasil, Ricardo Lewandowski, afirmou que o chefe de Estado, Lula da Silva, ficou "estarrecido" com o número de mortos da megaoperação e que "se mostrou surpreso que uma operação desta envergadura fosse desencadeada sem conhecimento do Governo federal, sem nenhuma possibilidade de o Governo federal participar de alguma forma".
O Comando Vermelho dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia.
A organização nasceu na década de 1980, quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.
