Guterres quer juntar 300 milhões de dólares para organizações de mulheres em países em crise
Para o secretário-geral da ONU, "muitos desafios que enfrentamos hoje, como guerras, caos climático e aumento do custo de vida, são o resultado de uma cultura dominada pelos homens".
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, admitiu esta segunda-feira que tem o objetivo de angariar 300 milhões de dólares para distribuir por organizações de mulheres em países em crise.
"Comprometi-me a fazer tudo o que estava ao meu alcance para angariar 300 milhões de dólares, nos próximos três anos, para as organizações de mulheres e defensoras dos direitos humanos em situações de crise", disse António Guterres que esteve reunido com mulheres representantes da sociedade civil num encontro em que os desafios que se colocam à igualdade de género estiveram em debate.
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O secretário-geral das Nações Unidas vai mais longe e assume mesmo o objetivo de ter a participação de mais mulheres nos processos de paz com envolvimento da ONU: "A partir de agora, nos processos de paz liderados ou onde a ONU esteja integrada, vamos lutar para que as mulheres participem. O nosso objetivo, e ainda estamos muito longe dele, é o de uma participação de pelo menos 30%."
No encontro, António Guterres manifestou-se preocupado com os retrocessos que têm acontecido nos últimos anos, defendendo que não se pode deixar metade da humanidade para trás. E, em todas essas regiões de crise, as mulheres vivem pior do que os homens.
"Ganham menos, têm dez vezes mais tarefas que não são remuneradas, a crise alimentar tem um impacto desproporcional nas mulheres, que são as primeiras a passar fome. Os direitos reprodutivos e sexuais têm sido seriamente atacados por muitos governos que minam a autonomia sobre os corpos e as vidas delas", considera o líder da ONU.
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E vai mais longe: "Muitos desafios que enfrentamos hoje, como guerras, caos climático e aumento do custo de vida, são o resultado de uma cultura dominada pelos homens."
Nesta conversa anual com a sociedade civil, este ano dedicada às mulheres, António Guterres manifestou-se também preocupado com a forma como a tecnologia digital tem contribuído para a discriminação das mulheres.
O secretário-geral das Nações Unidas lembra que os algoritmos são maioritariamente criados por homens e ampliam o sexismo. Há casos de influencers com campanhas para denegrir as mulheres e raparigas que chegam a milhões de jovens e ataques online que afetam mais as mulheres.
Os peritos da ONU chamaram a atenção para a campanha que a junta militar de Myanmar está a fazer nas redes sociais. Os militares estão a assediar e a incitar os ataques contra quem
defende a democracia e os direitos humanos. O relatório fala em discurso de ódio, ameaça de violência sexual e mensagens discriminatórias que tentam desacreditar as ativistas e que já levaram muitas mulheres a retirar-se da vida pública.
Os peritos apelam às empresas donas de aplicações de mensagens e de redes sociais para ajudarem a combater esta campanha. O Telegram foi o primeiro a tomar medidas, suspendendo 13 contas ligadas à junta militar, mas muitas outras continuam ativas.