Hélder Sousa Silva: "É necessário reforçar a Defesa, mas não se pode beliscar a qualidade de vida"
Sousa Silva rejeita a ideia de um Exército “com a bandeira europeia nos uniformes", defendida pelo líder da sua bancada (PPE) no Parlamento Europeu
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O eurodeputado português Hélder Sousa Silva (PSD) destaca a importância do reforço da defesa europeia, considerando “bem-vinda” a iniciativa apresentada pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para “rearmar a Europa”.
Em entrevista ao programa Fontes Europeias da TSF, o eurodeputado lamenta que a opção pelo reforço das capacidades militares europeias seja “tardia”, mas considera que o plano de von der Leyen representa um passo necessário, ainda que exija um esforço adicional para garantir os meios financeiros adequados.
O plano prevê a mobilização de 800 mil milhões de euros em quatro anos. Hélder Sousa Silva nota que se trata de um montante inferior ao recomendado pelo relatório Draghi, que apontou para a necessidade de um investimento anual semelhante.
“Consideramos todos que [este plano] é tardio, mas nunca é tarde para ganharmos o tempo que precisamos”, afirmou o deputado, que integra a recém-criada Comissão Parlamentar de Defesa, sublinhando que a iniciativa visa dotar os 27 Estados-membros de capacidade de dissuasão perante potenciais ameaças no atual contexto de insegurança global.
Hélder Sousa Silva salienta que o financiamento do reforço da defesa será assegurado essencialmente “pelos orçamentos nacionais, que contribuirão com 650 mil milhões de euros, enquanto a UE disponibilizará 150 mil milhões em empréstimos com juros especiais, num modelo semelhante ao do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”.
Por outro lado, Sousa Silva destaca ainda a importância dos chamados "defense bonds", instrumentos mutualizados entre os Estados-membros para agilizar o financiamento da defesa europeia, que se espera que possa vir a ser uma medida que conste no “livro branco”, que a presidente da Comissão Europeia apresentará na próxima semana.
Indústria
O eurodeputado sublinha que a indústria europeia de defesa, incluindo a portuguesa, poderá beneficiar deste investimento, com potencial para “criação de emprego e dinamização económica”.
“Queremos que estes euros sejam investidos primariamente em território da União Europeia e nós, portugueses, iremos defender a nossa indústria e a nossa tecnologia”, afirma.
Apesar do foco na defesa, Sousa Silva salienta que o investimento militar deve ser equilibrado com a manutenção das políticas sociais da União, considerando que “o nível de qualidade de vida atingido na UE não pode ser beliscado por investimentos na defesa”.
O eurodeputado dá o exemplo de “programas como habitação, saúde e apoio aos jovens e idosos”, considerando que estes programas “devem ser preservados”, com a possibilidade de recorrer a “novos mecanismos financeiros” para evitar cortes nestas áreas.
Questionado sobre a possibilidade de fundos não utilizados da política de coesão serem canalizados reforçar a defesa, Sousa Silva apoia a medida, destacando que poderá apoiar a construção de “infraestruturas de duplo uso, como pontes ou transportes que possam ter aplicação civil e militar”.
“A coesão para Portugal tem sido essencial e defenderei sempre a coesão, mas se houver fundos que não foram utilizados e que possam ser aplicados de forma eficaz na defesa, sem comprometer as áreas sociais, parece-me uma decisão oportuna”, argumenta.
O eurodeputado rejeita, porém, a ideia de um Exército “com a bandeira europeia nos uniformes, como defendeu Manfred Weber, o líder da bancada do Partido Popular Europeu, ao qual pertencem os deputados do PSD e do CDS/PP. Sousa Silva considera que a NATO deve continuar a ser o pilar da segurança europeia. “Não há necessidade de criar uma estrutura paralela quando já existe um modelo testado”, frisa.