Em causa estão declarações proferidas por Durão Barroso sobre exigência francesa de excluir o setor audiovisual e cultural europeu das negociações para um acordo de comércio livre com os Estados Unidos.
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O Presidente francês declarou-se hoje incrédulo com o facto de o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ter classificado França como «reacionária» devido à sua defesa da exceção cultural nas negociações comerciais com os EUA.
«Não quero crer que o presidente da Comissão Europeia tenha proferido afirmações sobre França formuladas dessa maneira, ou mesmo sobre os artistas que se expressaram», disse François Hollande à imprensa, à chegada a Lough Erne, na Irlanda do Norte, para uma cimeira do G8.
Numa entrevista hoje publicada pelo International Herald Tribune, José Manuel Durão Barroso criticou violentamente a vontade expressa de França de excluir o setor audiovisual do mandato de negociações comerciais da Comissão Europeia com os Estados Unidos, classificando tal atitude como «reacionária».
O presidente da Comissão Europeia assegurou que acredita na proteção da diversidade cultural, mas que rejeita isolar a Europa. «Alguns dizem que são de esquerda, mas na verdade são culturalmente extremamente reacionários», disse.
A exceção cultural «é um princípio que sempre foi evocado e de cada vez afastado das negociações comerciais» conduzidas pela União Europeia nas últimas décadas, respondeu o chefe de Estado francês.
«Não há razão para isso mudar desta vez na discussão com os Estados Unidos», insistiu.
Referindo-se a este assunto numa conferência de imprensa, um porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly, afirmou em Bruxelas que o comentário de Durão Barroso não visava França mas «aqueles que paralelamente lançaram ataques pessoais contra o presidente [Durão Barroso], muitas vezes violentos e injustificados, e contra a Comissão».
O porta-voz não precisou que artistas ou políticos são, segundo Durão Barroso, «reacionários».
As críticas de Durão Barroso surgem depois das longas negociações realizadas na sexta-feira entre os 27 ministros do Comércio da União Europeia para acordar os termos do mandato para negociar o acordo UE-EUA, que será o maior acordo de comércio livre do mundo.
Ao fim de 13 horas de negociações, França manteve a insistência na chamada «exceção cultural», que prevê a proteção do setor cultural e a exclusão «clara e explícita» do audiovisual, exigência que acabou por ser aceite com a condição de a Comissão Europeia poder voltar à questão se for necessário.