Roger Eatwell, autor do livro "Populismo - A revolta contra a democracia liberal", defende que as condições que permitiram o holocausto bem no centro da Europa foram muito especificas e dificilmente se repetirão.
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Passados 75 anos da libertação de Auschwitz e do final da Segunda Guerra Mundial há ainda quem olhe com preocupação para o surgimento de líderes populistas e movimentos de extrema-direita. Os ataques antissemitas têm aumentado em diversos países, como por exemplo em França e nos Estados Unidos.
Em 2018 Mireille Knoll, uma sobrevivente de Auschwitz, de 85 anos, foi morta em Paris. Tratou-se de um crime antissemita. Seis anos antes um cidadão muçulmano atacou um escola judia em Toulouse matando três alunos e um professor.
A TSF conversou com Roger Eatwell, professor emérito de Política Comparada na Universidade de Bath, autor de várias obras sobre o populismo contemporâneo, que diz que é preciso levar a sério esta ameaça e tentar contrariá-la. Chama, no entanto, à atenção para o facto de, atualmente, serem os movimentos de esquerda, mais que os de direita, que são abertamente anti-Israel e de alguma forma antissemitas. Há, também, um pequeno grupo de ativistas de extrema-direita que tanto pode atacar judeus como muçulmanos.
O professor lembra que pelo menos dois partidos classificados como de extrema-direita, o FPO na Áustria e o PVV na Holanda, tentam atrair o eleitorado judeu e apoiam Israel.
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Eatwell faz questão de separar populistas de extrema-direita. Diz que apesar de líderes como Donald Trump, Marine Le Pen, Matteo Salvini e Nigel Farage serem abertamente anti-imigração e terem incentivado sentimentos de xenofobia, a maioria dos movimentos populistas não se opõe à presença dos imigrantes que já estão nos países. Esses movimentos não querem a entrada de novos estrangeiros que não têm qualquer qualificação. O escritor e professor considera que é pertinente discutir quantos imigrantes sem formação são precisos num país, e de que forma podem as sociedades integrar melhor as comunidades muçulmanas.
Apesar de todas as ameaças, Eatwell diz que dificilmente a Europa viverá um novo holocausto porque a segunda guerra mundial e o ambiente que se vivia na altura facilitaram o que aconteceu. No entanto, é preciso não subestimar a ameaça de quem está disposto a usar o terrorismo.
O autor de "Populismo - A revolta contra a democracia liberal" olha para os populistas que hoje vão surgindo e defende que são produto das desigualdades económicas, de algumas falhas da democracia e da oposição à imigração. A forma de os combater é melhorando os sistemas existentes e explicando às pessoas que os refugiados não são imigrantes e têm de ser acolhidos. Quanto aos imigrantes, o autor defende que podem ajudar a economia de um país.
Roger Eatwell diz que só em países com fracas tradições democratas, como a Hungria ou o Brasil, o populismo é uma séria ameaça. Nos países estáveis o populismo é apenas um sintoma que pode desaparecer com os medicamentos adequados.