Milhares de pessoas continuam hoje concentradas no centro de Hong Kong para pedir a eleição democrática do chefe do Executivo. A TSF falou com um jornalista português que está a acompanhar de perto estes protestos. João Silva conta que as autoridades estão surpreendidas pela dimensão da desobediência.
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A situação estava mais calma esta manhã, com muitos manifestantes sentados ou a deitados a dormir nas ruas, enquanto os polícias, que formam barreiras junto de edifícios ou de cruzamentos estratégicos, também estavam a descansar.
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As autoridades renovaram, ainda que sem resultados, os apelos para que os manifestantes regressem a casa e abandonem os distritos administrativos e financeiros da Região Administrativa Especial chinesa, como Admiralty, Central ou Causeway Bay.
Bancos, escolas e alguns estabelecimentos comerciais dessas zonas estavam hoje encerrados, apesar de a paralisação da atividade não ser total. Em paralelo, foram também suspensas várias atividades do governo e reuniões do Conselho Legislativo (LegCo, parlamento).
Contudo, a Bolsa de Valores de Hong Kong - a segunda mais importante da Ásia e a sexta maior do mundo - estava a funcionar dentro da normalidade, apesar da tensão na cidade e da possibilidade de o distrito financeiro puder ficar cortado ter tido consequências nos mercados. A bolsa abriu a sessão em baixa, com o principal índice, o Hang Seng, a registar perdas de 1,18%.
Encerradas estavam também ainda várias saídas do metro e várias carreiras de autocarros foram suspensas ou desviadas.
Os manifestantes contam com o apoio de voluntários que lhes levam alimentos, água e máscaras para fazer frente ao gás lacrimogéneo, permitindo assim que prossigam com aquele que se começa a chamar de "o protesto dos guarda-chuvas", numa referência ao uso dos mesmos como 'escudo' face ao lançamento de gás pimenta.
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O chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, desmentiu rumores de que irá recorrer à Guarnição do Exército Popular de Libertação Exército de Libertação Popular ou de que os agentes da polícia antimotim estão a utilizar balas de borracha.
O movimento surge em contestação à decisão de Pequim de restringir o sufrágio universal pleno. A 31 de agosto, a Assembleia Nacional Popular decidiu que os aspirantes ao cargo vão precisar de reunir o apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão então selecionados. Ou seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois daquilo que os democratas designam de "triagem".
A China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200 pessoas, que seria capaz de escolher o seu líder em 2017.
Após os incidentes da madrugada de sábado durante a manifestação que encerrava uma semana de boicote às aulas e protestos estudantis, o movimento 'Occupy Central' declarou o início antecipado de uma campanha de desobediência civil.
O objetivo de 'Occupy Central' passa por paralisar a atividade no distrito de Central, coração financeiro e comercial da cidade, caso não exista sufrágio universal pleno, sem restrições, nas próximas eleições para o chefe do Executivo, em 2017.
O movimento pediu hoje a demissão de CY Leung, considerando ser a única forma de fazer com que seja possível relançar o processo de reforma política e de criar um espaço que permita terminar com a crise.
O 'Occupy Central' garante que o protesto "é um movimento espontâneo do povo de Hong Kong, que não está sob nenhuma organização".