A produtividade em Portugal está estrangulada pela idade dos trabalhadores e pelo nível de dívida do país, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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O relatório da OIT sobre as tendências para este ano (2023) do emprego mundial e das perspectivas sociais realça que "o envelhecimento da força de trabalho reduz o crescimento da produtividade".
O relatório deste ano aponta Portugal como um dos países onde mais se sente o efeito negativo sobre o crescimento do chamado Fator da Produtividade Total. Ou seja, em Portugal, a idade mais do que a falta de investimento em capital pesa na falta de capacidade de expandir a produtividade das empresas.
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A OIT explica que "o maior impacto negativo para que isto aconteça" deverá ser em países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Irlanda, países "onde se espera um rápido envelhecimento da força de trabalho e são estados que também enfrentam elevados encargos de dívida".
Ainda segundo este novo relatório, a nível global, o atual abrandamento económico global, em resultado da guerra na Ucrania, "pode forçar mais trabalhadores a aceitar empregos de menor qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social, acentuando assim as desigualdades destapadas pela a crise da pandemia de Covid-19".
Por outro lado, "tendo em conta que os preços aumentam a um ritmo mais acelerado do que os rendimentos do trabalho, a crise associada ao custo de vida pode empurrar mais pessoas para a pobreza". A OIT coloca, assim, como tendência para 2023, a existência de pessoas com um posto de trabalho e um salário mas que não deixam de ser pobres.
O relatório "World Employment and Social Outlook: Trends 2023" prevê também que o crescimento global do emprego será de apenas 1% em 2023, menos de metade do crescimento do ano passado, que teve um crescimento de 2,3%.
Já o desemprego a nível mundial deverá aumentar ligeiramente em 2023, em cerca de três milhões de pessoas, para 208 milhões, o que corresponde a uma taxa de desemprego global de 5,8%, estima a organização. Além do desemprego, "a qualidade do emprego continua a ser uma preocupação fundamental", pode ler-se no relatório.
A evolução no processo de redução da pobreza vacilou uma década durante a crise pandémica da covid-19 e, apesar de se ter verificado uma recuperação durante 2021, "a escassez contínua de melhores oportunidades de emprego provavelmente piorará", diz a OIT. A deterioração do mercado de trabalho deve-se às tensões geopolíticas emergentes e ao conflito na Ucrânia, à recuperação desigual da crise causada pela pandemia e às falhas nas cadeias de abastecimento, que criaram condições para a estagflação (simultaneamente alta inflação e baixo crescimento), pela primeira vez desde a década de 1970, refere a OIT.
Segundo o relatório, as mulheres e os jovens estão "significativamente pior nos mercados de trabalho".
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho fixou-se em 47,4%, em 2022, face a 72,3% dos homens, o que significa que, "para cada homem economicamente inativo, existem duas mulheres nessa situação", lê-se no documento.
Os jovens entre os 15 e 24 anos "enfrentam sérias dificuldades em encontrar e manter um emprego decente", alerta a OIT, acrescentando que a taxa de desemprego mundial dos jovens é três vezes maior que a dos adultos e que 23,5% dos jovens não estão empregados, não estudam nem seguem qualquer formação.