Guterres espera que comunidade internacional seja "generosa" face à dívida moçambicana
Secretário-geral da ONU sublinhou que os fundos existentes neste momento para a resposta de emergência em Moçambique, Zimbabué e Maláui são largamente insuficientes, e pediu uma resposta internacional rápida ao pedido urgente.
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse esta terça-feira à Lusa que espera que a comunidade internacional seja "generosa" em relação à dívida soberana de Moçambique, após a devastação causada pelo ciclone Idai.
Num encontro com a imprensa na sede da ONU em Nova Iorque, dedicado ao tema do ciclone Idai, António Guterres falou em inglês e português e, depois de pedir mais donativos em dinheiro da comunidade internacional, respondeu à Lusa que a ONU vai defender que a comunidade internacional seja "generosa" em relação às dívidas de Moçambique.
"Naturalmente que estaremos solidários com Moçambique nos esforços para que (...) no futuro, tendo em conta a devastação causada e o impacto enorme na própria economia do país (...), para que seja possível a comunidade internacional ser também generosa em relação à forma como o tratamento da dívida será conduzido", afirmou António Guterres.
O secretário-geral da ONU destacou que, "neste momento, o apelo [da organização] é um apelo em relação à ajuda de emergência" e referiu que a comunidade internacional tem "consciência que Moçambique tem uma situação financeira complexa e, nomeadamente, uma dívida complexa".
António Guterres sublinhou que os fundos existentes neste momento para a resposta de emergência em Moçambique, Zimbabué e Maláui são largamente insuficientes, e pediu uma resposta internacional rápida ao pedido urgente ("flash appeal") lançado na segunda-feira para o financiamento de 282 milhões de dólares (quase 250 milhões de euros) para a ajuda de emergência em Moçambique para um período de três meses.
O pedido de segunda-feira seguiu depois da libertação de 20 milhões de dólares (17,7 milhões de euros) do Fundo Central de Emergência e ao constatar-se a insuficiência da ajuda que se está a recolher proveniente de várias organizações internacionais e de outros países.
"Quando conseguirmos ultrapassar a fase da ajuda humanitária e de emergência, estaremos presentes no apoio aos esforços moçambicanos de retoma do caminho do desenvolvimento", disse António Guterres, falando em português.
Dirigindo-se ao povo moçambicano, o secretário-geral da ONU declarou: "Na sexta-feira falei com o Presidente Filipe Nyusi, a quem transmiti o incondicional e solidário apoio das Nações Unidas. Hoje queria dizer às autoridades e ao povo de Moçambique e em particular às populações mais afetadas que estamos juntos. Não nos vamos esquecer de vós."
Com cerca de três milhões de pessoas afetadas, estima-se que dois terços são moçambicanas. Os números apontam para um milhão de crianças afetadas e para a destruição de infraestruturas no valor de mil milhões de dólares, segundo o secretário-geral da ONU.
Os dados mais recentes das autoridades moçambicanas, divulgados hoje, apontam que o número de vítimas mortais subiu para 468.
Guterres alertou que, devido às alterações climáticas, os desastres naturais têm sido "mais frequentes, mais intensos e com consequências mais catastróficas" e defendeu que a resposta tem de focar-se na adaptação e num ajustamento a estas "realidades novas".
O secretário-geral anunciou ainda que, ao ter convocado uma nova Cimeira do Clima, para setembro, em Nova Iorque, pretende "mobilizar mais ambição para a mitigação, adaptação, financiamento e inovação".
António Guterres disse ainda que nomeou Marco Luigi Corsi, do Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (Unicef), para coordenador da ajuda humanitária em Moçambique, e Sebastian Rhodes Stampa, do OCHA (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), para coordenador-adjunto, estando os dois já baseados na Beira.