Imigração precisa de políticos corajosos e uma estratégia articulada de longo prazo
Os desafios são lançados pelo relator especial da ONU para os direitos humanos dos migrantes. Em entrevista à agência Lusa, François Crépeau diz que gostava que os politicos percebessem o que leva tantas pessoas a arriscarem a vida para tentarem chegar à Europa
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É tempo de acabar com a tolerância zero na imigração. O relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos Migrantes.critica os governos por fecharem as portas.
Em entrevista à agência Lusa, François Crépeau e diz que é preciso compreender as motivações de quem tenta uma vida melhor e aponta o dedo aos políticos dizendo que lhes falta coragem para promover mudanças.
«"O que podemos esperar de pessoas normais, que esperam e desesperam, sem qualquer solução à vista? Se eu e você estivéssemos nesses campos, o que faríamos? (...) Eu iria com os traficantes. E a maioria desses ministros que nada querem fazer fariam o mesmo, pelas suas famílias. Portanto, isto serve para pedir mais ideias criativas e compromissos de longo prazo para fazer o que está certo. não vai acontecer do dia para a noite», defendeu aquele responsável.
François Crépeau defende, por isso, mais flexibilidade para reduzir o poder das redes de traficantes e lembra que «proibir as pessoas de entrarem apenas cria um mercado para as máfias que prometem ultrapassar a proibição». «Se queremos controlar o fluxo de pessoas, temos de autorizar a passagem para a maioria delas», adianta.
O professor canadiano está convencido de que a União Europeia pode assumir a liderança deste processo. E faz uma comparação com os acordos de Schengen, que permitem a livre circulação de bens e pessoas.
François Crépeau diz que é preciso criatividade para lidar com estes fluxos migratórios e um plano a longo prazo para os próximos 25 anos, que permita maior mobilidade.
Nesta entrevista, o relator da ONU critica ainda o Reino Unido por ter deixado de financiar as operações de busca e salvamento de imigrantes no mar.
Londres argumenta que é um incentivo para outros imigrantes tentarem chegar à Europa. François Crépeau critica a hipocrisia: «Temos de reconhecer que precisamos desses imigrantes, mas o problema é que precisamos deles a dois euros à hora e a única razão por que eles aceitam esses dois euros à hora é porque não têm outra opção».
Para o relator da ONU estão em causa valores democráticos que não estão a ser aplicados.
A Organização Internacional para as Migrações diz que quase cinco mil imigrantes morreram o ano passado por tentarem emigrar, o ano mais mortífero desde que há registos.