Depois da vitória do Brexit, aumentaram os receios dos emigrantes que sentem que estão a ser alvo de ataques racistas e xenófobos. No Twitter foi criada a hashtag "PostRefRacism" para partilhar casos.
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O chefe do Conselho Nacional da Polícia disse que se registaram 85 casos de crimes de ódio através da Internet entre quinta-feira e sábado da semana passada, correspondendo a um aumento de 57%, em relação a maio.
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Já John O'Connell, do grupo anti-racista Far Rigt Watch, disse que foram detetados mais de 90 incidentes nos últimos três dias, que incluem insultos verbais e agressões físicas.
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Ontem, o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, disse que colocou a polícia municipal em alerta e sublinhou que encara com "seriedade e responsabilidade" a defesa da "fantástica mistura de pessoas, a diversidade e a tolerância".
"Vão-se embora"
Um desses casos foi o vandalismo na sede da comunidade polaca em Londres que foi pintada com a inscrição "vão-se embora". Joanna Ciechanowska, diretora da galeria que funciona no interior das instalações do "Polish Social and Cultural Association", disse hoje à agência France Presse que sentem "uma mistura entre o desgosto e o medo. Nós temos o centro a funcionar desde 1962 e nunca tivemos de nos confrontar com atos de racismo".
"É muito preocupante. Ouço amigos que viajam de comboio e que dizem que as pessoas que se sentam ao lado, de um momento para o outro, lhes dizem diretamente: 'façam as malas e vão-se embora. Se as pessoas que tinham um grão de agressividade dentro delas, o referendo fez com que tudo saísse cá para fora", contou Joanna Ciechanowska.
A embaixada da Polónia já manifestou "choque e preocupação" sobre os incidentes e "abusos" contra a comunidade polaca no Reino Unido. Uma série de autocolantes com a frase "Deixem a União Europeia: não queremos aqui a bicharada polaca" foram espalhados na zona onde se concentra a comunidade em Huntingdon, perto de Cambridge, no sábado.
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No Twitter foi criada a hashtag "#PostRefRacism" (Racismo Pós Referendo em português) para reunir casos, episódios e incidentes racistas e xenófobos contra emigrantes.
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O conselheiro das Comunidades Portuguesas António Cunha e o vereador de Stockwell, no sul de Londres, Guilherme Rosa, confirmam ter conhecimentos de mais casos na região da capital britânica, nomeadamente através das redes sociais, nos dias após o referendo.
Porém, Cunha que vinca os portugueses não são alvo em particular deste tipo de incidentes e que não há "razão para alarme".
Nem a Embaixada nem o Consulado portugueses de Londres receberam denúncias oficiais de ataques a portugueses, e a polícia britânica também não confirmou casos específicos nacionais.
Políticos criticam casos de racismo
O primeiro-ministro David Cameron já criticou "a série de reprováveis" incidentes que se seguiram à decisão sobre o abandono do Reino Unido da União Europeia. "Nos últimos dias, temos visto inscrições lamentáveis que atingem o centro comunitário polaco e elementos de minorias étnicas têm sido alvo de insultos verbais", disse.
David Cameron afirmou também que é preciso ter presente que os membros das minorias estão no Reino Unido tendo contribuído de forma muito importante para a sociedade britânica: "Não vamos apoiar os crimes e o ódio ou qualquer tipo de ataques do género, que devem terminar".
O ministro das Finanças, George Osborne, apelou à unidade e à "presença de espírito" e pediu aos britânicos para condenarem divisões radicais, "onde quer que seja".
Sayeeda Warsi, política conservadora que mudou de opinião a meio da campanha e votou pela manutenção do Reino Unido na União Europeia, tem também criticado abertamente os incidentes xenófobos dos últimos dias.
"Eu passei o último fim de semana em contacto com organizações, pessoas e ativistas que estão atentos em relação aos crimes de ódio e que relatam situações preocupantes. Encontram pessoas na rua que lhes dizem: 'Nós votamos pelo Brexit, por isso, chegou a hora de vocês se irem embora'", contou Sayeeda Warsi à Sky News.