Índia e Paquistão nunca deixaram de lutar por ela. O que torna Caxemira um problema para o mundo?
A escalada de violência na região Caxemira está a preocupar a comunidade internacional. O futuro da região parece estar condenado a uma repetição do passado: uma guerra sem fim à vista.
Corpo do artigo
O mundo tem novamente os olhos voltados para o território entalado entre a Índia, o Paquistão e a China. Na região de Caxemira, agrava-se de dia para dia a tensão entre as duas potências nucleares que a disputam.
Esta quarta-feira, o Exército do Paquistão afirmou ter abatido dois aviões indianos dentro do seu espaço aéreo e a Índia garantiu ter derrubado um avião paquistanês, depois da "violação" do espaço aéreo indiano por aviões paquistaneses.
E tudo isto acontece depois de um "ataque preventivo" da Índia ao Paquistão, na terça-feira. As autoridades indianas divulgaram ter atingido "o maior campo de treinos" do grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JeM), que reivindicou o ataque suicida de 14 de fevereiro na Caxemira indiana, onde morreram 42 membros da Central Reserve Police Force, uma força paramilitar.
E este atentado - uma espécie de "pecado" original nesta nova onda do confronto - foi o mais mortífero desde 2002 na zona da Caxemira controlada pela índia.
Na chamada Linha de Controlo, que separa a Caxemira Indiana da Caxemira Paquistanesa, dezenas de civis e militares morreram nos últimos anos, de ambos os lados da barricada.
O ano que marca o fim da colonização britânica, 1947, marca o início da disputa territorial. Tanto a Índia como pelo Paquistão reivindicam a região da Caxemira desde que conquistaram a sua independência.
Uma resolução da ONU decretou que a população local devia decidir através de um referendo a independência do território, mas a votação nunca aconteceu.
Caxemira acabou por ser incorporada na Índia por decisão do marajá local e esta decisão administrativa levou a uma guerra de dois anos. O conflito terminou com a divisão do território: cerca de um terço ficou com o Paquistão e o restante foi atribuído à Índia. Em 1965 eclodiu uma nova guerra e em 1999 a região foi palco de um novo confronto, mais breve, mas pesado no número de vítimas.
Na Caxemira indiana, a maioria da população preferia ser independente ou estar sob jurisdição do Paquistão. O país é maioritariamente muçulmano, tal como cerca de 60% das pessoas naquele território, a única região da índia onde os hindus estão em minoria.
Em 2003 chegou a ser assinado um cessar-fogo, e em 2014 as relações entre o então novo primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, e o homólogo indiano, Narendra Modi, davam sinais de que a paz estava no horizonte. Não estava.
As elevadas taxas de desemprego e abusos das forças de segurança contra os insurgentes e separatistas inflamaram os confrontos nas ruas da Caxemira indiana. Em 2016, a morte do líder militar Burhan Wani, de 22 anos, contribuiu para agravar ainda mais a violência dos protestos. Mais de 30 civis morreram nos dias que se seguiram ao funeral, segundo a BBC.
Por outro lado, a Índia acusa o Paquistão de apoiar de forma dissimulada as infiltrações na sua parte do território e a própria revolta armada, o que Islamabad sempre negou.
Em 2017, Narendra Modi cancelou uma vista à capital do Paquistão, e desde então não há avanços nas conversações de paz entre os dois vizinhos. Estes novos ataques deixam a esperança por uma solução ainda mais moribunda. Há quem diga que se voltou à estaca zero. Com uma diferença: agora, os dois vizinhos têm armamento nuclear. Uma dor de cabeça para aquela zona e para o resto do mundo.