O código de vestuário, e a obrigatoriedade de uso do hijab, é um dos maiores alvos de contestação das mulheres iranianas. A lista de discriminação é, no entanto, bastante mais vasta.
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As leis do casamento são um exemplo claro da diferença de tratamento entre homens e mulheres. Depois da revolução, em 1979, uma das primeiras mudanças foi a redução da idade a partir da qual as raparigas podiam casar. A idade baixou dos 18 para os 9 anos. Em 2002, o parlamento aumentou a idade para os 13 anos, mas o pai ou o avô paterno podem autorizar um casamento mais precoce. Em contrapartida, os rapazes só podem casar depois dos 15 anos.
Um muçulmano pode juntar-se com uma mulher de outra religião, mas o mesmo não é permitido às iranianas. No casamento a mulher tem de ser obediente para que o marido lhe dê dinheiro para a casa, roupas, comida e mobiliário.
Quando se trata de pedir o passaporte ou de viajar, as iranianas necessitam da autorização do marido. Apenas em situações muito excecionais o estado pode contornar a proibição. Isso aconteceu, por exemplo, com Zahra Nemati, duas vezes campeã paralímpica, que foi autorizada a participar numa competição no estrangeiro apesar de o marido não ter autorizado a viagem.
No caso de as coisas não correrem bem, ao homem basta dizer que se quer divorciar para que isso aconteça; já a mulher tem de ir a tribunal e provar que o marido tem uma doença mental, é um viciado em álcool ou drogas, ou é abusivo. A outra exceção é se ele for condenado a mais de cinco anos de cadeia.
Na separação, a mulher fica com a custódia dos filhos até eles completarem 7 anos e depois são entregues ao pai. No caso de o pai ter morrido as crianças são entregues à família paterna. Quanto às heranças, a mulher só tem direito a um oitavo dos bens do marido enquanto ele terá direito a 100%. Entre os filhos, os rapazes herdam o dobro das raparigas.
Perante o sistema judicial a igualdade também não existe. Uma agressão a um homem implica uma pena mais severa do que se a vitima for uma mulher. O testemunho de uma iraniana vale metade do que o do homem e elas são criminalmente responsáveis a partir dos 9 anos enquanto eles só o são depois dos 15.
O código de vestuário obriga as iranianas a vestirem-se de forma modesta a partir da puberdade. Aos 13 anos começam a ser obrigadas a usar o hijab, um lenço que lhes tapa o cabelo. Qualquer mulher que desrespeito a lei em relação ao hijab é duramente castigada, assim como os que lhe estão próximos. O caso mais conhecido é o de Nasrin Sotoudeh que em março de 2019 foi condenada a 38 anos de cadeia por, como advogada, ter defendido uma mulher que protestou contra o uso do lenço.
Desde setembro, depois de Mahsa Amini ter morrido quando estava sob custódia da polícia dos costumes, mulheres e homens têm saído à rua, primeiro por causa do hijab, mas depois para exigirem mais direitos para as mulheres, liberdade e a mudança do regime. Apesar da repressão, dos assassinatos e das ameaças dos guardas revolucionários milhares de pessoas continuam a desafiar as autoridades.