Os israelitas estão hoje a ser convocados para irem às urnas. Vão escolher o novo governo de Tel Aviv. Mas longe deste frenesim, há um canto do país onde não há votos.
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Situa-se no norte de Israel e há mais de 40 anos é governada por um único homem. Ele chama-se Eli Avivi. A terra, Achzivland, fica junto à fronteira entre Israel e o Líbano. Aqui, a fronteira é delimitada por portões grandes e azuis, mas as entradas e saídas não têm qualquer restrição.
Achzivland é talvez o "país" (não reconhecido pela comunidade internacional) mais curioso do Médio Oriente. Tem bandeira (com uma sereia), tem hino nacional (o som do oceano) e até tem uma Constituição que declara um presidente democraticamente eleito... por si: Eli Avivi, o homem que governa o seu próprio país.
Eli e a mulher, Rina, são os únicos habitantes de Achzivland. O país "nasceu" em 1971, quando o casal decidiu separar-se de Israel e tem sobrevivido às várias tentativas de derrube por parte do poderoso vizinho. A BBC foi encontrá-lo, aos 85 anos, a descansar no exterior da sua cabana feita de madeira e orgulhoso do lugar onde vive e pelo qual luta desde 1950.
«Sou presidente de um país pequeno», diz com voz fraca e rouca. «Mas tenho muitos problemas com o governo israelita. Eles não queriam deixar-me viver aqui e fizeram tudo o que podiam para me tirar deste lugar. Foi como uma guerra entre o governo e eu».
Nascido numa família judia, Eli foi pescador e trabalhou em vários barcos, desde a África à Escandinávia e até chegou a passar um ano a viver na Gronelândia.
Em 1952, durante uma visita à irmã, Eli descobriu Aczibe (Achziv), uma antiga vila árabe conhecida como al-Zib e cujos moradores fugiram quando a terra foi conquistada pelo exército judeu, em 1948. Depois de alguns anos de peregrinação, decidiu ficar ali. Pescava e vendia peixe e com o passar do tempo, construiu a sua casa própria.
Aczibe era um oásis de tranquilidade e transformou-se numa grande atração para jovens que visitavam o local e conversavam com Eli. Além de pescar, Eli adotou a fotografia como passatempo.
Tinha uma vida idílica até que pouco tempo depois o exército israelita solicitou a terra para construir uma base militar. Começou assim a "guerra" entre Eli e as autoridades israelitas. Ele não desistiu. Escreveu uma carta ao então primeiro-ministro David Ben-Gurion, que lhe manifestou o seu apoio, para o desagrado dos militares.
O exército concordou que ele ficasse, mas com uma condição. Tinha de trabalhar como agente secreto. Eli aceitou.
Para suportar as suas depesas Eli começou a alugar alojamento e Aczibe tornou-se num paraíso para os hippies, onde as pessoas podiam passear, tirar a roupa, tocar música... e atraiu algumas celebridades como Paul Newman e Sophia Loren.
Enquanto isso, o Estado de Israel estruturou um outro plano. O governo declarou a intenção de fazer de Aczibe um parque nacional. Em 1963 foram enviados tratores para demolir o que restava da antiga vila, incluindo a terra que contornava a casa de Eli, para substituí-la por vegetação. Eli considerou o ato irresponsável e de vandalismo ambiental.
A gota de água aconteceu no verão de 1971. Os israelitas oficiais ergueram um portão na terra de Eli, diminuindo o terreno da sua casa. Também fecharam o acesso à praia. Eli e Rina rasgaram os passaportes israelitas e declararam a independência de Aczibe, só que acabaram presos e foram levados a julgamento.
Segundo Rina, o juiz justificou o processo pelo crime de «criar um país sem autorização», multou o casal por ter destruído os seus passaportes e libertou ambos.
A história de Eli e do seu pedaço de terra começou a atrair as atenções da imprensa. Eli aproveitou isso em seu favor e convocou uma entrevista rodeado por dezenas de ativistas em seu redor.
«Este parque nacional talvez seja útil para Tel Aviv, mas não é para Tel Aczibe», disse então aos jornalistas o autoproclamado presidente Avivi. Quandfo foi determinada a demolição do prédio do parlamento de Achzivland, Eli falou com os ativistas para começarem uma campanha. Era a única forma de combater um governo tão poderoso como é o de Israel.
A comunicação social começou a fazer vários trabalhos sobre essa campanha, «e as pessoas começaram a acreditar nela», diz Eli. Curiosos, os israelitas começaram a vir de longe para ver Achzivland, para desgosto das autoridades, que estavam cansadas de ter de lidar com aquele "rei hippie".
Um sinal da popularidade do país foi quando Achzivland decidiu promover um festival de rock em 1972, ao estilo "Woodstock". A afluência foi tanta que a fila de trânsito para chegar à pequena cidade atingiu 94 quilómetros.
Eli Avivi continuou depois a construir seu Estado ao mesmo tempo que travava uma longa batalha judicial, com as autoridades a conseguirem o que queriam. A maior parte do território de Aczibe foi incluída no parque nacional e Eli foi proibido de promover festivais em Achzivland.
Depois de anos de confrontos, os dois lados chegaram a acordo. Eli foi "deixado em paz" em troca do pagamento de uma valor para ter acesso à praia pelo portão, enquanto na principal avenida da localidade existe uma placa oficial turística que indica o caminho para "Eli Avivi" e não Achzivland, o que poderia ser entendido como um reconhecimento oficial.
Para o futuro, Eli dzi não ter planos para indicar um sucessor. «Quando morrer, a minha mulher decidirá o que ela quiser». Rina já fez saber que pretende preservar Achzivland como um memorial permanente para Eli Aviv. Para isso já iniciou conversações com o governo israelita na esperança de atingir essa meta.
«Achzivland não está à venda. A vida aqui não está à venda. Aqui, todas as pessoas sentem-se como se estivessem no paraíso, e isso não tem preço».