João Oliveira pede "caminho de paz que sente à mesa Ucrânia, EUA, NATO, UE e Rússia para encontrar uma solução"
O deputado do PCP defende "um caminho de construção da paz que sente à mesa das negociações, a Ucrânia, os EUA, a NATO, a UE e a Rússia, para se encontrar uma solução de paz para a Ucrânia". Advoga também pelo fim do acordo de cooperação UE-Israel como forma de pressão para uma solução para a guerra em Gaza.
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João Oliveira, como é que vê esta maioria esmagadora de Roberta Metsola, presidente eleita do Parlamento Europeu com a votação mais expressiva de sempre?
É, digamos assim, ou não é propriamente uma eleição inesperada.
O arranjo, digamos assim, na distribuição dos postos europeus, os cargos... o ponto de vista oficial da União Europeia estava anunciado à partida com o entendimento entre os sociais-democratas, o PPE, os liberais e também os verdes. E, portanto, eu diria que esta eleição não é propriamente inesperada, ela resulta desse arranjo que foi feito. Há, ainda assim, dois outros elementos que eu julgo que são significativos.
Primeiro, a marcação de uma alternativa com a candidatura que foi apresentada pelo grupo da Esquerda e que acaba por ter de dar essa expressão, digamos assim, a uma alternativa que verdadeiramente tem que ser encontrada na substância das políticas. Tem hoje uma expressão, digamos assim, em relação à candidatura da presidente do Parlamento Europeu, mas tem que ter uma expressão da substância das políticas. Eu julgo que as intervenções tivemos a oportunidade de ouvir, antes da eleição (de Roberta Metsola, por um lado e de Irene Montero, por outro) marcam, digamos assim, essas diferenças de forma muito significativa.
Em segundo lugar, eu diria que é aí que tem que se encontrar o distanciamento e a marcação de espaços e de fronteiras em relação, particularmente, à extrema-direita. Ou seja, mais do que as afirmações gongóricas sobre cordão sanitário e isto e aquilo, é verdadeiramente na substância das políticas que tem que se encontrar, na forma de barrar, digamos assim, e de marcar distanciamentos em relação à extrema-direita. E particularmente com a abordagem aos problemas que marcam a vida dos povos, para garantir que numa abordagem, por via do aprofundamento da democracia encontrando a resposta aos problemas dos povos, se trave o espaço às forças antidemocráticas.
O João Oliveira fala na questão do coordão sanitário como declarações gongóricas.
O grupo dos Patriotas pela Europa, onde está o Chega, rompe esse coordão sanitário ao decidir votar em Roberta Metsola?
Eu não faria referência ao cordão sanitário, mas as afirmações que muitas vezes nós vemos que são afirmações sem, digamos assim, ação política, sem substância política e outras considerações como essa, que têm sido discutidas a propósito do coordão sanitário, de que se fala a propósito da extrema-direita. E queria sobretudo sublinhar o aspeto de que não é na diluição daquilo que é verdadeiramente alternativo ao caminho que a União Europeia tem seguido, que nós encontramos a forma de barrar o caminho à extrema-direita; ou seja, nós não podíamos ficar numa situação em que, ao neoliberalismo, houvesse apenas como afirmação da alternativa a extrema-direita.
Isso seria o pior que podia acontecer do ponto de vista político para os povos, a muscular até mais geral.
E por isso a esquerda decidiu apresentar um candidato?
E, por isso, a esquerda decidiu apresentar um candidato, e que, a forma como se marcou esse espaço político, na referência concreta às questões da pobreza, da habitação, da saúde, das desigualdades sociais, os problemas dos trabalhadores, do racismo, da discriminação, da xenofobia, os problemas da guerra que marcaram muito essas diferenças em relação ao consenso da guerra que representa a candidata Metsola, eu diria que essa marcação do espaço foi feita.
O resultado não é fraco, ou seja, conseguir 61 votos, quer dizer que dos 130 e tal que não votaram em Roberta Metsola, Irene Montero só foi buscar 15 votos, além do grupo da família da Esquerda Europeia...
Eu acho que há dois elementos dois elementos de registo a proposição dessas votações. Uma é que a candidata apresentada pelo grupo Unitário da Esquerda, (GUE-NGL), foi para lá daquilo que é a representação do próprio grupo.
Só isso é já positivo?
Eu julgo que é um elemento positivo. Há um outro elemento que deixa, pelo menos, uma dúvida. É que os votos que obteve Roberta Metsola vão para lá daquilo que era o consenso que, à partida, estava anunciado para a sua eleição.
Ou seja, somando os deputados dos sociais democratas (S&D, onde se inclui o Partido Socialista), do PPE (PSD e CDS), dos verdes e dos liberais (Iniciativa Liberal), eles ficam aquém, digamos assim, do número de votos que obteve Roberta Metsola, eventualmente contou também com alguns votos da extrema-dereta. E eu diria que isso é um elemento, como o voto é secreto, verdadeiramente essa questão não fica clarificada, mas poderá ter de ser também um elemento de referência, digamos assim, do ponto de vista da discussão política, porque em muitas matérias, provavelmente isso acontecerá. Eu diria que a extrema-dereta não constitui alternativa em relação ao aprofundamento do consenso neoliberal, em relação à rotura com o caminho militarista, que a União Europeia está a seguir. A extrema-direita está de acordo com esse caminho de reforço do militarismo e de aceitação da política de confrontação e de guerra.
E portanto, verdadeiramente não é na extrema-direita que se consegue encontrar uma alternativa. Esta eleição permitiu dar uma expressão, digamos assim, política mais evidente. Em relação a isso, eu julgo que em relação à discussão da substância das matérias políticas que teremos pela frente também, haverá outras oportunidades de mostrar que, não só a extrema-dereta não é alternativa ao caminho que a União Europeia tem seguido,
como verdadeiramente não é alternativa em relação às grandes questões que se colocam aos povos, sejam as questões da paz e da guerra, sejam as questões das desigualdades, das injustiças, da abordagem aos problemas económicos e sociais com que a Europa está confrontada.
Falou em oportunidade para demonstrar outras políticas. Tem alguma ideia de coisas que se sejam para si prioritárias começar já a apresentar no início desta legislatura?
Nós temos insistido na ideia de pôr fim ao Acordo de Cooperação União Europeia-Israel como um elemento de pressão para a solução da situação,
não apenas a solução em Gaza, mas para uma solução que garanta o respeito pelos direitos do povo palestino. Estou em querer que essa será uma matéria em que haverá essa divisão em relação à extrema-direita. Estou a falar, por exemplo, de um caminho de construção da paz que sente à mesa das negociações, a Ucrânia, os Estados Unidos, a NATO, a União Europeia e a Rússia, para se encontrar uma solução de paz para a Ucrânia e uma solução de segurança coletiva para toda a Europa.