Numa entrevista à edição brasileira do El País, o antigo primeiro-ministro comenta a crise política brasileira e compara a situação que viveu com a de Lula.
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José Sócrates considera que no Brasil está em curso uma tentativa de golpe político e constitucional. Numa entrevista à edição brasileira do El País, o antigo primeiro-ministro português defende que "o impeachment de Dilma Rouseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas".
"Não basta fazer acusações, é preciso fazer julgamento; condenar alguém sem direito a defesa acontece no Brasil e em Portugal, condenar sem julgar; destituição sem delito e sem fundamento. É um golpe político da direita, porque agora não mobilizam os militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018. É utilizar a Justiça para condicionar eleições", diz José Sócrates.
Nesta entrevista, o antigo primeiro-ministro lembra que há semelhanças entre o processo que enfrenta em Portugal e o caso de Lula. "É curioso o paralelismo; como em meu caso, houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa; o que ocorre no Brasil é uma tentativa de destituição sem delito, sem fundamento constitucional".
José Sócrates volta a dizer que continua a não ser acusado de nada 16 meses depois de ter sido detido e diz que "está na moda" acusar políticos de corrupção com o objetivo de uma destruição política. "Antes, para eliminar um político acusavam-no de atentar contra a segurança do Estado. O golpe de força moderno é a falsa acusação de corrupção. Não são necessários fatos nem provas, basta acusar para que tenha o efeito de um assassinato político".
Questionado sobre se as acusações tiveram efeito, Sócrates responde: "O objetivo era impedir minha candidatura à presidência do país e que o Partido Socialista não ganhasse as eleições. Conseguiram os dois".
Na entrevista ao El País Brasil o ex-primeiro-ministro fala ainda sobre Marcelo Rebelo da Sousa. "Nunca me agradou seu interesse em querer contentar a todos", diz, "o presidente Marcelo sempre foi um personagem em busca de seu papel político. E o descobriu finalmente, o papel dos afetos, eixo de todo um novo programa político. Por outro lado, vejo o alvoroço diário de sua presidência como uma necessidade de querer sublimar a frustração por ter sido afastado da política durante 20 anos".