É advogado, escritor e jornalista de investigação. Trabalhou com Assange e escreveu um muito polémico manifesto contra Macron. Filho do português Paulo Branco, traz ao festival de cinema organizado pelo pai um simpósio denominado Resistências, onde junta ativistas de várias geografias.
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O Simpósio Internacional Resistências dura até este Domingo, em Lisboa e Sintra. Para o curador Juan Branco, esse "tremor, característicos dos radicais, cujo grau de compromisso excede todas as expetativas" chamado Resistência é "antes de tudo", um ato de "agir para pensar" e, primeiramente, "sair do quadro estabelecido, tomar por certo um perigo que obrigará a desfazermo-nos de uma força constrangimentos preexistentes, a empunhar, a partir do nosso corpo e do nosso espírito, uma força telúrica feita para velar, e que de repente é chamada a erguer-se".
Foi essa força que empurrou para a resistência nomes diversos como alguns dos que já ontem passaram pelo Espaço Nimas: Maxime Nicolle (uma das principais figuras do Movimento dos Coletes Amarelos, aka Fly Rider), Yvanne Goua (ativista da Guiana Francesa) ou Mehdi Behlaj Kacem (filósofo franco-tunisino, apresentado como "o maior filósofo político francês da sua geração"). Ou aqueles que, hoje á tarde, vão passar pelo Centro cultural Olga Cadaval: Omar Barghouti (Palestina, fundador do movimento Boycott a Israel), o líder indígena Jaime Vargas (Equador), Dominique Minkov (Rússia), Olivier Gaudet (líder independentista da Guiana Francesa), Salah Dabouz (Argélia, conhecido advogado na área dos direitos humanos) ou, em vídeo-entrevista, Chen Guangcheng (importante dissidente chinês, conhecido como "o advogado dos pés descalços").
Conseguir juntar estas pessoas, só por si, já deixa satisfeito o organizador Juan Branco: "o mais importante é que todos eles são cidadãos, não são pessoas que cresceram em palácios da república ou outros lugares de poder. São pessoas que conseguiram organizar grandes movimentos a partir de uma posição que foi sempre muito modesta, nunca tentaram conquistar o poder e os privilégios que dele advêm".
O advogado-escrito-jornalista-curador acredita que estas pessoas têm ótimas experiências para partilhar entre si e com o público que os queira ir ver e ouvir. Branco considera que a fasquia está elevada: "nunca houve um momento assim em que dissidentes do mundo inteiro com um papel tão importante - porque estamos a falar de pessoas que estão a escrever a história, cada um no seu país - juntos no mesmo lugar em que essas lutas estão a acontecer. Vai ser em dois dias uma possibilidade de redescobrir o mundo e reinterpretar todas essas imagens que não param de chegar". O objetivo último é, segundo Juan Branco "construir sociedades mais justas e mais humanas. Simplesmente".
Gente para quem resistir é vencer, que ajudará a refletir também sobre "ganhar e perder ou como é viver sem se ter ganho a luta que se construiu". Mas, como afirma o filho do mais conhecido produtor português, "sempre haverá resistentes".
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Ao fim da tarde (19h), no Centro Cultural Olga Cadaval, após a exibição do filme "Comportem-se Como Adultos", o próprio realizador, Costa-Gravas, vai partilhar experiências no debate com Luigi de Magistris (presidente da Câmara de Nápoles e pilar de resistência ao avanço da extrema-direita na Europa), o já referido Maxime Nicolle e Guilherme Serôdio (ativista e co-fundador da Extinction Rebellion na Bélgica).
À noite, na Universidade Lusófona (23h), os já mencionados Nicolle, Dabouz, Vargas e Goua vão procurar respostas para a pergunta: "Uma Revolução das Bases Ainda é Possível?". Amanhã, Domingo, os debates passam pelas ecologias da resistência nas lutas locais e globais, a virtualidade na resistência e a resistência na virtualidade, a resistência contra plataformas e "sistemas informáticos injustos", a reinvenção do Mediterrâneo: "Da Palestina aos Refugiados, Passando pelo Magreb e Pelas Revoluções Árabes".
O filme "Marighella" de Wagner Moura, com a presença do realizador, encerra o simpósio às nove da noite deste Domingo, no Teatro Tivoli.
O filme conta a história de Carlos Marighella (interpretado por Seu Jorge), guerrilheiro (Bolsonaro chamar-lhe-á terrorista) que liderou um dos grupos armados que lutou contra a ditadura militar no país, tendo sido morto em 1969. Para Wagner Moura: "essas histórias precisam ser contadas, não podemos esquecê-las".