Passaram esta semana 30 anos sobre as primeiras duas mortes das guerras que levaram ao fim da Jugoslávia. Foi em Plitvice, um dos lugares mais bonitos dos Balcãs e da Europa, onde o rastilho de violência ficou mais perto de explodir descontroladamente e consumar a desintegração da Jugoslávia.
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Para muitos turistas, para muitos europeus, o Parque Natural de Plitvice - uma floresta exuberante que serve de ninho a uma escadaria de lagos alimentados por inúmeras quedas de águas - é um dos recantos mais bonitos da Europa, um postal de beleza que ninguém esquece, que nos fica no corpo. Mas mesmo alguns dos mais experimentados viajantes desconhecem que aquele foi também um dos lugares sangrentos onde começou a cascata de guerras civis que levaria ao fim da Jugoslávia.
No contexto da antiga Jugoslávia, é impossível definir com consenso a data em que a guerra começou; melhor dizendo, em que as guerras começaram (tantas foram as suas versões e declinações). Ainda assim, os confrontos de Plitvice sinalizam um momento - que a Europa não percebeu - em que a espiral de fogo e destruição se foi tornando imparável. A 31 de Março de 1991, a promessa, em tom de grito de esperança, que a Europa havia proclamado no final da Segunda Guerra Mundial - "Nunca Mais" - começou a ser pura retórica. E o muro tinha caído em Berlim apenas um ano e meio antes.
A TSF conversou com duas mulheres que eram crianças no início dos anos noventa. Uma delas, Katarina Ramljak, conhece como poucos o Parque Natural de Plitvice, património da Humanidade pela UNESCO, esse lugar onde a morte (re)começou, no início de uma década trágica para os Balcãs - um "inferno" que muitos visitamos hoje apenas e só, e ainda bem, como "um dos paraísos" do mundo, deixando a força da natureza ganhar a qualquer ideia de guerra entre os homens. Porque nada como a natureza, e talvez a música, para dar horizonte ao futuro dos Balcãs, coração frágil da Europa. E se a beleza sem fim de Plitvice toca tão intensamente Katarina, a voz e as palavras de Djordje Balasevic (1953 - 2021) hão-de ecoar sempre no ouvido e no coração de Marija Danic, como se a música do grande cantautor jugoslavo, que a covid nos levou tão cedo, conseguisse abafar o som dos tiros e das granadas das "fotos do fogo" que nunca lhes sairão da memória.
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