A sete meses das eleições legislativas, Trudeau corre o risco de não terminar o mandato. O estado de graça de que gozava está a ser abalado por um escândalo que mostra uma faceta dele que os canadianos não conheciam.
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Até ao inicio de fevereiro, Justin Trudeau era um politico muito popular, não apenas no Canadá mas em todo o mundo. Era o primeiro-ministro que defendia os direitos das mulheres, o que tinha mais ministras no Governo, o que discursava contra a corrupção e a desigualdade, o que enfrentava Donald Trump e o que aceitava os refugiados/migrantes recusados pelos Estados Unidos.
Mas no dia 7 de fevereiro, tudo se começou a desmoronar. O jornal "The Globe and Mail" publicava a noticia de que Jody Wilson-Raybould, antiga ministra da Justiça e Procuradora-geral, tinha sido pressionada para ajudar uma empresa de construção do Quebeque a resolver um caso criminal. Era preciso evitar um processo judicial por suspeitas de que a SNC-Lavalin, uma das maiores empresas de engenharia e construção do mundo, tinha pago cerca de 35 milhões de euros a funcionários líbios para conseguir contratos com o Governo de Muammar Kaddafi.
Wilson-Raybould confirmou depois, perante o Comité de Justiça do Parlamento, que enfrentou ameaças veladas e muita pressão para ajudar a SNC-Lavalin. Justin Trudeau terá mandatado diversas pessoas para exercerem pressões sobre o Departamento de Justiça, mas ele próprio terá pedido à Procuradora para não acusar a empresa porque era necessário manter os empregos na região.
A SNC-Lavalin é uma das grandes empregadoras do Canadá, com 9 mil funcionários, e uma condenação impediria a empresa de obter contratos do Governo. A empresa tem sede no Quebeque, província essencial para o Partido Liberal, de Trudeau.
O primeiro-ministro recusa as acusações que lhe são feitas, mas o caso tem abalado a vida politica do país e já causou três baixas na sua equipa. A primeira a sair foi a própria Wilson-Raybould, que em janeiro passou a ocupar o Ministério de Assuntos de Veteranos e renunciou em fevereiro.
Depois demitiu-se Gerald Butts, principal assessor de Trudeau, que foi acusado de ser um dos responsáveis pelas pressões à antiga Procuradora-geral. Ele negou as acusações e garantiu que saía para não perturbar o trabalho "vital que o primeiro-ministro e o gabinete estão a fazer em defesa de todos os canadianos".
Na 4 de março, foi a vez da presidente do Gabinete de Fiscalização Orçamental do Ministério das Finanças, Jane Philpott, abandonar o barco, alegando ter perdido a confiança na forma como o Governo está a lidar com este assunto.
O caso continua a ser analisado no Comité de Justiça que na última quarta-feira ouviu Gerald Butts. O antigo assessor de Justin Trudeau acusou Wilson-Raybould de estar a agir por despeito, por considerar que em janeiro foi despromovida no interior do Governo. "Acredito firmemente que nada de inapropriado aconteceu e a verdade é que nada foi alegado antes da remodelação governamental", declarou Butts. A própria antiga Procuradora-geral não acusa Trudeau de violar a lei, mas sim de ter agido de forma errada.
O escândalo já permitiu ao Partido Conservador destacar-se um pouco nas sondagens para as legislativas e os partidos da oposição têm exigido a demissão do primeiro-ministro, alegando que ele não tem condições para se manter em funções.
Os canadianos queixam-se do facto de Trudeau não ter ainda dado uma explicação credível para toda esta história. Ele limitou-se a negar as acusações e garantiu que tudo faria, dentro do que a lei lhe permite, para evitar a perda de empregos. Nos últimos dias, o chefe de Governo cancelou diversos eventos públicos para se aconselhar sobre o assunto.
Analistas políticos canadianos têm defendido, nos jornais do país, que o caso manchou a imagem de Trudeau e do próprio Canadá, mas consideram que o Partido Liberal tem ainda tempo para recuperar até às eleições.