O presidente turco disse que a gravação que provaria o assassínio de Jamal Khashoggi deixou desconfortável não só o chefe de informação saudita, mas também os líderes dos EUA, França e Alemanha.
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As revelações são feitas pelo próprio Presidente da Turquia, que lembra a reação daqueles que ouviram a gravação do momento do assassinato do jornalista saudita.
"Quando ouviu [as gravações de voz], o funcionário dos serviços de informação saudita surpreendeu-se e disse: «Parece que [o assassino]t omou heroína, isso só pode ter sido feito por alguém que tomou heroína»", declarou Recep Tayyip Erdogan.
O Presidente turco fez estas declarações aos jornalistas que o acompanharam, na segunda-feira, no voo de volta de Paris, onde participou nas comemorações do centenário do Dia do Armistício da I Guerra Mundial.
Erdogan afirmou que discutiu o caso de Khashoggi durante o jantar na capital francesa com os seus homólogos norte-americano, Donald Trump, e francês, Emmanuel Macron, assim como com a chanceler alemã, Angela Merkel.
"O nosso serviço de informação não escondeu nada. Deixámos ouvir [as gravações] todos que quiseram, incluindo os sauditas, ao Estados Unidos, a França, o Canadá, a Alemanha e o Reino Unido", sublinhou Erdogan.
"Os líderes ouviram as gravações de áudio, mas não responderam imediatamente sobre o que fazer. Tomaram as suas próprias notas e farão as avaliações necessárias", disse.
"Observei o desconforto nos rostos do senhor Trump, do senhor Macron e da senhora Merkel. Nos Estados Unidos, o Congresso solicitou informações à CIA. Eu penso que o ponto de vista mudará quando publicarem as suas conclusões", acrescentou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlüt Çavusoglu, disse esta segunda-feira que, a 24 de outubro, os serviços de informação turcos compartilharam gravações de áudio do caso Khashoggi com outros países.
O Canadá confirmou ter recebido as gravações, enquanto o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, negou que a Turquia tenha compartilhado essa informação.
Por outro lado, o presidente turco criticou as autoridades dos serviços de informação sauditas por tentarem adiar a investigação e pediu mais uma vez para esclarecerem quem deu a ordem para assassinar o jornalista.
"O procurador-chefe [saudita] veio [à Turquia] e reuniu-se com o procurador-chefe de Istambul. O procurador que veio estava com vontade de dar desculpas impossíveis [para atrasar tudo]", disse Erdogan. "Quem deu a ordem [para o assassínio]?", questionou Erdogan.
O Presidente turco afirmou que os detidos no âmbito deste caso devem dizer de quem partiu a ordem para o homicídio.
"Eu disse ao senhor Trump que não havia necessidade de procurar os assassinos aqui e ali. Os assassinos estão entre os 18 [presos]" na Arábia Saudita, declarou Erdogan.
Jamal Khashoggi, de 60 anos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 2 de outubro, para obter um documento para se casar com uma cidadã turca e nunca mais foi visto.
O jornalista saudita, que colaborava com o jornal The Washington Post, estava exilado nos Estados Unidos desde 2017 e era um reconhecido crítico do poder em Riade.
A Arábia Saudita só admitiu que Jamal Khashoggi foi morto nas instalações do consulado saudita em Istambul dias depois, após as autoridades de Riade terem afirmado que saíra vivo do consulado.
O presidente turco já declarou, várias vezes, querer que sejam julgados na Turquia os 18 cidadãos detidos na Arábia Saudita por suspeitas de envolvimento na morte do jornalista.