Kiev opõe-se à visita da agência nuclear internacional à central de Zaporizhzhya
Grossi revelou que a AIEA estava a preparar uma missão a Zaporizhzhya, mas Kiev garante que "não convidou" e "recusou-lhe no passado fazer tal visita".
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A Ucrânia opõe-se à visita do diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, à central nuclear de Zaporizhzhya (sul), enquanto estiver ocupada por forças russas, anunciou esta terça-feira a operadora ucraniana Energoatom.
"A Ucrânia não convidou Grossi a visitar a central nuclear de Zaporizhzhya e recusou-lhe no passado fazer tal visita", declarou a Energoatom na rede social Telegram, citada pela agência francesa AFP.
A empresa estatal ucraniana disse que uma visita da AIEA à central "só será possível quando a Ucrânia recuperar controlo sobre o local".
Grossi escreveu na rede social Twitter, na segunda-feira, que a AIEA estava a preparar uma missão de peritos à central de Zaporizhzhya, a maior da Europa e ocupada pelas forças russas desde o início de março, assegurando que a Ucrânia a tinha solicitado.
A Energoatom negou ter pedido a visita da AIEA e considerou a declaração de Grossi como "uma nova tentativa de obter acesso à central de Zaporizhzhya, a fim de legitimar a presença dos ocupantes e aprovar as suas ações".
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A empresa disse ainda que a perda de comunicação entre a AIEA e a central, que permite à organização com sede em Viena fiscalizar o seu funcionamento, deve-se ao bloqueio do operador de rede móvel no local, cuja responsabilidade atribuiu às forças russas.
"Os dados [sobre o funcionamento da central] estão a acumular-se nos servidores e serão transmitidos à AIEA quando o operador [de rede móvel] estiver novamente operacional", acrescentou a Energoatom.
A Rússia ameaçou, em 19 de maio, cortar o fornecimento da central de Zaporizhzhya, a menos que Kiev pagasse a Moscovo pela eletricidade ali produzida.
Em 2021, antes da invasão russa, a central de Zaporizhzhya representava 20% da produção anual de eletricidade da Ucrânia e 47% da gerada pelas quatro centrais nucleares do país.
Nas últimas semanas, vários funcionários russos têm feito declarações que sugerem que a Rússia se prepara para uma ocupação sustentada ou mesmo uma anexação das áreas que controla no sul da Ucrânia, a região de Kherson e parte de Zaporizhzhya.
A administração pró-russa na região de Zaporizhzhya anunciou, em 2 de junho, que estava a assumir o controlo das propriedades que pertenciam ao Estado ucraniano até 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
O decreto de nacionalização, assinado então pelo chefe da administração militar-civil da região de Zaporizhzhya, Yevgeny Balitsky, incluía "terrenos, recursos naturais e infraestruturas de setores estratégicos da economia".
Não foi especificado se a medida contemplava a central nuclear de Zaporizhzhya.
As forças russas assumiram o controlo da central após um ataque que suscitou o receio de um acidente nuclear como o ocorrido na central ucraniana de Chernobyl, em 1986, considerado o pior desastre do género em todo o mundo.
Situada perto da cidade de Energodar, a central está separada pelo rio Dnipro (Dnieper, em russo) da capital regional Zaporizhzhya, que ainda se encontra sob controlo ucraniano.
O controlo da costa do Mar de Azov (Kherson, Zaporizhzhya e Donetsk), incluindo o porto de Mariupol, permite à Rússia uma ligação terrestre entre o território russo e a península da Crimeia, que anexou à Ucrânia em 2014.
A Energoatom gere as quatro centrais nucleares em funcionamento na Ucrânia, que têm em conjunto 15 reatores, seis dos quais equipam a central de Zaporizhzhya.
Criada em 1957, a AIEA é uma agência autónoma das Nações Unidas que visa promover o uso pacífico da energia nuclear e desencorajar a sua utilização para fins militares.