Pela primeira vez as eleições realizam-se a um sábado e essa não será a única alteração. Tudo indica que chegam ao fim os quase 9 anos de governação do Fine Gael.
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Durante mais de dois anos, os partidos irlandeses têm vivido ao abrigo de uma trégua. Com o caos no Reino Unido por causa do Brexit os principais partidos decidiram manter estável o governo minoritário que dirige o país. No dia 31 de janeiro a Grã-Bretanha saiu da União Europeia e a trégua acabou.
O Fine Gael, no governo desde 2011, aparece em terceiro lugar em todas as sondagens. O primeiro-ministro, Leo Varadkar quis eleições antecipadas para tentar ganhar uma maioria, mas vê-se a lutar para conseguir continuar no poder.
No espaço da União Europeia, onde assumiu uma posição de destaque nas negociações com a Grã-Bretanha, o primeiro-ministro (Taoiseach) está a ser penalizado por medidas impopulares e por ter sido pouco eficaz na resolução de alguns problemas.
O sistema de saúde é o tema fundamental para 40% dos eleitores. Em 2018 foi defendida a necessidade de serem feitas reformas para que os cuidados médicos chegassem a todos os habitantes, mas até agora nada foi feito.
O aumento da idade da reforma para os 67 anos, em 2021, é outra das preocupações dos irlandeses. Grande parte dos contratos de trabalho termina quando os funcionários fazem 65 anos. Isso cria uma incompatibilidade porque vai passar a existir um período de dois anos em que as pessoas não estão a trabalhar nem se podem reformar.
O número de pessoas sem-abrigo no país tem aumentado, são nesta altura 10 mil, das quais 3500 são crianças. A este problema junta-se a falta de casas. Com o resgate do FMI e da União Europeia, em 2010, o setor da construção ficou totalmente parado e ainda não conseguiu retomar a atividade por completo.
O aumento do custo de vida é também uma das razões que parecem impedir a maioria absoluta de um partido nestas eleições.
Varadkar tem como principais opositores o Fianna Fáil, de Micheál Martin, e o Sinn Féin de Mary Lou McDonald. O partido, que tem um passado ligado ao IRA, mas cuja líder não tem qualquer laço com os paramilitares, apareceu pela primeira vez à frente nas sondagens. O Sinn Féin sempre foi a terceira força politica do país, mas agora pode estar em condições de ganhar.
O Sinn Féin prometeu manter a idade da reforma nos 65 anos e quer um referendo sobre a reunificação das duas Irlandas.
Também em primeiro lugar, noutras sondagens, aparece o Fianna Fáil, um partido do centro. Desde 1921, o partido criado por Éamon de Valera tem repartido a gestão do país com o Fine Gael. Em 2011, o partido sofreu a pior derrota da história tendo perdido 51 deputados. Os irlandeses responsabilizam Micheál Martin pela crise que o país atravessava desde 2008.
Agora, o Fianna Fáil pretende aproveitar a frustração do povo pela forma como Leo Varadkar tem tratado as crises nos setores da saúde e habitação. O partido promete mais e melhor investimento nos cuidados de saúde. Quer ainda construir 100 mil habitações com preços acessíveis e penalizar os proprietários que têm terrenos, mas não avançam para a construção.
Nestas legislativas é ainda esperada uma subida dos verdes. Com a emergência climática no topo das preocupações o partido pode passar dos dois deputados atuais para nove ou 10.
Destas eleições é pouco provável que saia uma maioria e tanto o Fianna Fáil como o Fine Gael já recusaram juntar-se ao Sinn Féin para criar uma coligação. Um governo que integre o Fianna Fáil, os verdes e o partido trabalhista (que pode ter 6 deputados) é apontado como a melhor solução.
Se o Sinn Féin ganhar, tanto o Fianna Fáil como o Fine Gael poderão ser obrigados a negociar com Mary Lou McDonald uma solução governativa.