Instabilidade política, insegurança, conflitos armados permanentes. Quatro anos depois da morte de Kadhafi a Líbia parece não ter descanso, nem ordem. O período pós-ditador não tem sido animador para os líbios nem para os estrangeiros que trabalham lá.
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Nesrine e César. Ela líbia ele português. São um casal de namorados e estavam os dois em Trípoli, a capital líbia, quando Muhamar Kadhafi foi morto. Fez esta semana 4 anos que foi capturado em Sirte por rebeldes.
Nessa altura, da morte do antigo líder, a TSF acompanhou o regresso de Nesrine a Trípoli, depois de ela ter procurado refúgio em Portugal, durante os confrontos no país. Agora, 4 anos volvidos, reencontrámos Nesrine, que está em Portugal com César. Sobra-lhe desilusão no discurso. "O país talvez não estivesse preparado para uma revolução, para o que aconteceu. Continuamos à espera que as coisas melhorem." Entre a espera por melhores dias e a tristeza por aquilo que está a acontecer, perdeu-se a esperança que em 2011 se sentia nas ruas, há dois anos que o país não celebra o dia 17 de Fevereiro, o Dia da Revolução: "Nós éramos felizes no início e agora não. Nos primeiros dois anos aconteceram celebrações, mas agora já não. As pessoas perderam o entusiasmo com a revolução."
César é um português que trabalha para uma empresa nacional que tem delegação em Trípoli e vários projetos espalhados pela Líbia. O arquiteto, que se tem dividido nos últimos meses entre cá e lá, com as estadias mais longas a serem cá (em Portugal), diz que as "pessoas começaram a cair na realidade, depois da euforia inicial", e fala num caos que interessa a alguns, que se aproveitam da situação. Para as empresas estrangeiras, a situação é complicada sobretudo, sublinha o português, por causa da segurança, "é a principal questão". César diz que desde Julho do ano passado, altura dos ataques ao aeroporto e às refinarias, todos os estrangeiros saíram dos país e apenas muito pontualmente regressam.
A Líbia tem, neste momento, dois governos que reclamam a autoridade no país. Um, sediado em Trípoli, de base islamita, o outro, reconhecido internacionalmente, em Tobruk. As Nações Unidas têm procurado mediar uma solução que termine com apenas um governo a liderar os destinos do país, mas a tarefa tem-se revelado infrutífera. No início desta semana, e quando se pensava que um acordo estaria iminente, os dois lados anunciaram que rejeitavam os termos e voltou tudo ao ponto de partida.