Líder da oposição bielorrussa à TSF: "Lutaremos até à vitória"; "a UE pode fazer muito mais"
A líder da oposição vai receber o Prémio Sakharov, em nome do movimento democrático bielorrusso. Tikhanovskaya dispara críticas ao ditador Lukashenko, mas também ao que a União Europeia não tem feito nos últimos meses.
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Num webinar para jornalistas europeus, a dirigente bielorrussa Svetlana Georgiyevna Tikhanovskaya, que esta quarta-feira recebe o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, começou por enaltecer o papel inspirador que a União Europeia (UE) teve na situação bielorrusa: "A Europa está com o nosso movimento democrático, não reconheceu Lukashenko como presidente legítimo, inspirou-nos muito porque nos mostrou que não estamos sós. Temos o mundo a apoiar-nos". No entanto, "quatro meses passaram e entendemos que a União Europeia pode fazer muitíssimo mais", afirmou.
O arrastar da situação, a manutenção de Aleksander Lukashenko no poder, as detenções em massa, provocam o desespero e a impaciência da dirigente, que reclama a vitória nas eleições presidenciais de agosto último. "As pessoas estão a ser detidas em grande número, entendemos que a União Europeia tem que colocar muito mais pressão e as sanções são uma base evidente para isso. 32 mil pessoas foram detidas desde as eleições em agosto, e não há mais do que 100 pessoas na lista das sanções europeias. Consegue ver a diferença?", questionou.
Tikhanovskaya lamenta a tibieza das próximas medidas dos seus aliados europeus. "No terceiro pacote de sanções, creio que vão ser mais 29 pessoas. Não parece ser uma coisa séria da parte da União Europeia. Para os bielorrussos, a União Europeia é uma grande potência. As pessoas, nesta altura, sentem-se abandonadas pela União Europeia e nós já não pedimos, nós exigimos mais atenção para o movimento democrático bielorrusso, nestes tempos difíceis, porque precisamos do apoio agora. No futuro, pode ser tarde demais!", alertou.
A TSF perguntou à laureada com o Prémio Sakharov 2020, tendo em conta o apoio de Vladimir Putin a Lukashenko, quanto tempo está disposta a esperar? A luta vai continuar a partir do estrangeiro? "Não estamos à espera, estamos a lutar. E vamos lutar até à nossa vitória. Quanto tempo vai demorar, ninguém sabe, é difícil prever, mas é compreensível que as pessoas na Bielorrússia queiram que tudo isto acabe o mais depressa possível, porque é melhor para o nosso povo, para a economia, para o mundo."
Tikhanovskaya estreia-se no tabuleiro político dos lóbis e na procura de apoios políticos em Bruxelas mas sabe bem que tipo de adversário a oposição democrática bielorrussa tem pela frente: "Estamos a lidar com um ditador, que está agarrado ao poder, não se quer afastar, mesmo vendo que as pessoas estão a sofrer, a economia está a sofrer, mas continua no poder mesmo sendo ilegítimo aos olhos do povo bielorrusso".
"O povo não vai esquecer nem perdoar todas as atrocidades e crimes que ele cometeu contra o seu povo. Ele levou o país para a bancarrota aos olhos da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá, de todo o mundo. Ele está nas últimas mas nós vamos continuar a lutar até à vitória."