"O que Israel está a fazer não é uma operação militar planeada ou estudada para desenraizar os grupos responsáveis pelos ataques contra si, mas um ato atroz de vingança", considera a Liga Árabe.
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A ordem dada por Israel aos palestinianos para se deslocarem para o sul da Faixa de Gaza é "uma transferência forçada" e constitui "um crime que ultrapassa a compreensão", afirmou esta sexta-feira o presidente da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit.
"O que Israel está a fazer não é uma operação militar planeada ou estudada para desenraizar os grupos responsáveis pelos ataques contra si, mas um ato atroz de vingança (...) para punir os civis impotentes em Gaza", afirmou Aboul Gheit, numa carta urgente dirigida ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que já condenou a medida.
O grupo islamita palestiniano Hamas rejeitou o ultimato de 24 horas dado pelo exército israelita, o que implicaria a deslocação de cerca de metade dos 2,3 milhões de pessoas que residem na Faixa de Gaza.
"O nosso povo palestiniano rejeita a ameaça dos dirigentes da ocupação [israelita] e os seus apelos para que abandonem as suas casas e fujam para o sul ou para o Egito. Estamos firmes na nossa terra, nas nossas casas e nas nossas cidades. Não haverá deslocações", disse o Hamas num comunicado citado pela agência francesa France-Presse (AFP).
O Hamas, aliás, está a ser acusado pelo exército israelita de estar a instalar barricadas para travar a retirada de civis.
"O Hamas está a instalar barricadas e barreiras para evitar que a população do norte de Gaza vá para sul. Estamos a receber informações de que o Hamas está a tentar evitar a retirada, utilizando civis como escudos humanos", afirmou o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari.
O porta-voz militar israelita disse também que o movimento islamita palestiniano está a manter a população civil dentro das suas próprias instalações militares, incluindo túneis, adiantando que o Hamas está também a utilizar "edifícios de habitação civis para fins militares", de onde lança 'drones' (aparelhos aéreos não tripulados) para Israel.
Apesar de se ter manifestado contra a decisão israelita, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês) anunciou esta sexta-feira que se retirou para o sul da Faixa de Gaza.
A ONU advertiu que a ordem de evacuação do exército israelita poderá originar uma "situação catastrófica" em Gaza, onde a situação se deteriorou consideravelmente desde o início da guerra, há quase uma semana.
A passagem egípcia de Rafah é a única via de saída da Faixa de Gaza não controlada por Israel e foi bombardeada várias vezes esta semana.
O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, afirmou que o Egito continua empenhado em prestar ajuda a Gaza, mas instou os palestinianos a "permanecerem nas suas terras", num discurso proferido na quinta-feira.
O exército israelita avisou esta sexta-feira que vai operar com uma "força significativa" em Gaza nos próximos dias e apelou para que a população do norte do território se retire para sul para poder atacar o Hamas.
"Por entendermos que há aqui civis que não são nossos inimigos e que não os queremos atingir, estamos a pedir-lhes que se retirem", justificou um porta-voz do exército de Israel, Jonathan Conricus, citado pela agência norte-americana AP.
Israel tem concentrado forças junto à Faixa de Gaza numa indicação de uma possível ofensiva terrestre, depois de ter bombardeado o território controlado pelo grupo islamita Hamas nos últimos sete dias.
A escalada no conflito israelo-palestiniano foi desencadeada pela incursão sem precedentes do Hamas em Israel no sábado, que matou civis e militares e fez mais de uma centena de reféns, levados para a Faixa de Gaza.
Desde então, o conflito provocou quase três mil mortos dos dois lados.
Os bombardeamentos israelitas provocaram também mais de 423 mil deslocados na Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007.