Os quatro livreiros de Hong Kong conhecidos por venderem obras críticas do regime chinês, e que estão detidos na China, confessaram na televisão ter feito contrabando de livros para o continente, num caso que abalou a ex-colónia britânica.
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Em entrevistas separadas, difundidas no domingo pelo canal de televisão de Hong Kong Phoenix TV, os quatro homens - que estão sob investigação criminal na China - admitiram ter levado a cabo "comércio proibido".
O caso suscitou o receio de uma crescente influência de Pequim em Hong Kong, uma região chinesa, mas com administração especial, tal como acontece com Macau.
"Este tipo [de publicação] não é permitido pelas autoridades chinesas", admitiu o editor e dono da livraria Causeway Bay Books, Gui Minhai.
O cidadão de origem chinesa e passaporte sueco, que terá desaparecido em outubro passado quando passava férias na Tailândia, confessou que os livreiros "contornavam a inspeção na fronteira", alterando a capa dos livros ou colocando-os em sacos.
Já em janeiro passado, Gui tinha surgido na televisão estatal chinesa a afirmar que se entregou às autoridades após 12 anos fugido à justiça da China, que o condenou por ter causado a morte de uma mulher ao conduzir embriagado em 2004.
Os quatro homens trabalhavam para a editora Mighty Current em Hong Kong, responsável pela publicação de obras sobre intrigas políticas e casos amorosos dos líderes chineses.
Nas restantes entrevistas, os livreiros Cheung Chi-ping, Lui Por e Lam Wing-kee, que desapareceram em cidades do sul da China, culpam Gui pelo comércio ilegal de livros.
Um deles afirma mesmo, com a face em lágrimas, "estar disposto a ser julgado de acordo com a lei".
No início do mês, as autoridades chinesas confirmaram que os homens estão sob investigação.
O jornal online chinês Paper.cn cita informações da polícia, afirmando que Cheung, Lui e Lam talvez "regressem a Hong Kong num futuro próximo" sob fiança, enquanto aguardam julgamento, "depois de terem tido a boa atitude de se confessarem".
O mesmo artigo refere que desde outubro de 2014, 4.000 livros proibidos na China foram vendidos a compradores residentes no continente chinês e enviados por correio.
Entretanto, não há novidades sobre o quinto desaparecido, Lee Bo, cujo caso despertou maior revolta em Hong Kong, visto o seu desaparecimento ter ocorrido no território.
Lee Bo, que tem passaporte britânico, foi visto em Chai Wan (Hong Kong) a 20 de dezembro e uma carta enviada por si assume que está no continente chinês a "colaborar" com investigações.
Um relatório do Reino Unido sobre Hong Kong publicado este mês afirma que se Lee realmente atravessou a fronteira, levado por agentes do interior da China, isso constituiria uma grave violação da Declaração Conjunta Sino-Britânica.
Aquele acordo prevê que as políticas socialistas da China não se aplicam ao território, que tem a sua própria constituição, até 1947.