Francisco Louçã acompanhou no final dos anos 70 o surgimento do Partido dos Trabalhadores, na altura pautado por valores éticos. Quase 40 anos depois, o ex-líder do BE fala em afastamento e desilusão.
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Olhando para a situação política no Brasil, Francisco Louçã fala no "princípio de uma rapidíssima crise de regime no meio de uma 'tempestade perfeita'. O ex-líder do Bloco de Esquerda justifica a afirmação com a conjugação de três fatores: por um lado, constata-se o envolvimento de grande parte da classe política em esquemas de corrupção, por outros a recessão económica está a redefinir a distribuição de riqueza e, por último, a luta pelo poder que tem sido muito intensa.
Sobre o mais recente capítulo da crise política brasileira - a nomeação de Lula da Silva para o governo, Louçã fala em "atitude desesperada. E, em política, o desespero é sempre errado". "A detenção de Lula foi uma iniciativa ilegal e arbitrária, uma vez que ele não estava acusado e nunca recusou prestar depoimento". A resposta do ex-presidente brasileiro precipitou-se como "um castelo de cartas que vai caindo. Lula ficou numa posição defensiva, a mais frágil de todas".
Se em tempos, Francisco Louçã foi admirador das causas defendidas por Lula da Silva, a convergência de pontos de vista deu lugar a um distanciamento que começou no primeiro mandato de Lula. "Conhecia Lula da Silva quando ia ao Brasil com muita frequência. Também o encontrei muitas vezes em Portugal. Tivemos muitas reuniões antes de ele ir a eleições. O PT era o partido dos movimentos populares". Quase 40 anos depois, Dilma e Lula "são personalidades completamente diferentes". Diz Louçã que o Partido dos Trabalhadores agora "pensa menos no país e nos sacrifícios do povo. Há gigantescos interesses sociais e o PT cedeu-lhes com muita facilidade".
Questionado se foi uma desilusão, responde "foi uma desilusão enorme".