Entrega do Prémio Camões vem corrigir "um dos maiores absurdos contra a cultura brasileira"
O Presidente do Brasil discursa na entrega do Prémio Camões.
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O Presidente do Brasil, Lula da Silva, revelou sentir "honra" e uma "imensa alegria" por poder estar esta segunda-feira em Lisboa a entregar o Prémio Camões a Chico Buarque e a corrigir "um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira" nos últimos tempos.
"Este prémio devia ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos sabemos porquê. O ataque à cultura em todas as suas formas foi uma dimensão importante do projeto que a extrema-direita tentou implementar no Brasil. Se hoje estamos aqui é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil. Não podemos esquecer que o obscurantismo e negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio chico em Portugal. Um prémio da língua portuguesa, que nos une mesmo quando barreiras geográficas ou fronteiras nos separam", começou por dizer Lula.
Para o chefe de Estado brasileiro, a obra de Chico Buarque acompanha toda a história recente do Brasil, sem esquecer o contexto político e cultural de Portugal.
"No seu cancioneiro, nos seus romances, o autor nunca deixou de fazer da língua portuguesa instrumento de transmissão da nossa cultura e das nossas lutas. Na literatura, Chico fez da sua obra uma declaração de amor à língua portuguesa. Chico ousou muito, escreveu cruzando um abismo sobre um arame e chegou a outro lado. Na obra de Chico, o passado o presente e o futuro das nossas nações sempre estiveram vinculados. Foi assim que decidiu revisitar a nossa história na peça Calabar", sublinhou o Presidente do Brasil.
Recordou também que quando o Brasil e Portugal enfrentaram "violentos regimes ditatoriais", Chico Buarque "jogou luz sobre a festa da redemocratização portuguesa".
"Fazendo com que guardássemos, teimosos, um velho cravo como esperança para nós mesmos. E foi assim que Chico também festejou a independência política dos nossos irmãos e irmãs africanas. Transformou o quotidiano em poesia extraordinária. Ao expressar a beleza de tantos heróis, nunca deixou esquecer a força popular, o estreitamento do nosso intercâmbio cultural", rematou.
O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebe esta segunda-feira o Prémio Camões, quatro anos depois de ter sido distinguido, numa cerimónia a realizar no Palácio de Queluz, que simboliza o regresso aos valores democráticos no Brasil.
A cerimónia no Palacio Nacional de Queluz, no concelho de Sintra, está integrada na visita oficial a Portugal do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que começou na sexta-feira, dia 21, e decorre até terça-feira, dia 25, e será presidida pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal.