Luto, trauma e tristeza. Brasileira traça retrato de Telavive em tempos de guerra
Os israelitas perderam a sensação de segurança. Daniela Kresch vive em Telavive há 20 anos e nota que, devido ao conflito iniciado no sábado, há cada vez mais pessoas a tomarem calmantes e a pedirem ajuda às linhas telefónicas de apoio psicológico.
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Daniela Kresch é jornalista, vive na zona de Telavive há 20 anos e considera que este é o "pior momento" desde que está em Israel.
"Esta é a pior situação que eu já passei na minha vida e aqui em Israel todos os Israelitas que eu conheço dizem a mesma coisa, não sou só eu que moro aqui há 20 anos. Nunca houve na história de Israel 900 mortos em apenas um dia. É o pior momento não só para mim como para todos os israelitas", afirma, em declarações à TSF.
Questionada sobre se pensa sair de Israel, Daniela Kresch, que já foi correspondente da TSF durante vários anos, admite que "pela primeira vez em 20 anos" pensa em deixar o país.
"O Brasil está a fazer uma campanha de repatriação de nacionais através de aviões da Força Aérea brasileira. Essa campanha começa hoje e pelo que eu vi na imprensa brasileira 1700 brasileiros já se cadastraram para serem evacuados por esses aviões e eu pensei ontem seriamente em cadastrar", refere.
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Daniel conta que, em Telavive, não há sorrisos. A tristeza e o trauma dominam o ambiente na cidade.
"Não há aulas, as crianças estão todas em casa, também nervosas, porque os pais não conseguem esconder o nervosismo deles. Todas as conversas entre amigos são terríveis, está todo o mundo nervoso e deprimido, em choque e em luto. Ontem todos os israelitas saíram para os supermercados e compraram tudo, havia filas enormes, as pessoas estavam cabisbaixas, estavam tristes, não havia um sorriso, estavam todos nervosos e a chorar. O clima é de muita tristeza e muito luto, muito choque e trauma. É um trauma que já entrou para a história de Israel", descreve.
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Os israelitas perderam a sensação de segurança: há cada vez mais pessoas a tomarem calmantes e a pedirem ajuda às linhas telefónicas de apoio psicológico.
"As pessoas comentam umas com as outras que não param de tremer, que não param de ter uma sensação de alguma coisa na garganta que não sai. O pior do que aconteceu no sábado foi a sensação de falta de segurança, a sensação de insegurança que os israelitas, de repente, sentiram. A quantidade de pessoas que está a ligar para telefones de organizações de ajuda emocional é muito grande, as pessoas estão a tomar remédios para acalmar. É um trauma e estamos agora a ver os sinais do pós trauma", acrescenta.
O Hamas lançou no sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação "Tempestade al-Aqsa", com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta ao ataque surpresa, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação que batizou como "Espadas de Ferro".
Israel declarou guerra total e prometeu castigar o Hamas como nunca antes, e a mobilização de 300 mil reservas israelitas aumentou a perspetiva de uma invasão terrestre ou mesmo de uma reocupação de Gaza. O exército israelita afirma que já matou centenas de militantes e bombardeou numerosos alvos do Hamas.