Algures nos Alpes, Kylian descobriu Ana Paula ao ler num jornal brasileiro uma reportagem sobre prédio em São Paulo que desabou. O reencontro foi emocionante.
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Em maio de 2018, um prédio desabou no centro de São Paulo. Os jornais apressaram-se a contar as histórias das pessoas desalojadas.
Uma delas, entrevistada pelo jornal Folha de S. Paulo, chamou a atenção muito longe dali, numa localidade nos Alpes suíços.
O jornal recebeu uma mensagem de um rapaz da cidade de Fiesch, a 80 quilómetros de Berna, a dizer que fora adotado por uma família suíça mas que na sua certidão de nascimento constava como mãe o nome Ana Paula Archangelo dos Santos, o mesmo da senhora entrevistada na reportagem.
Contactada pelo jornal, Ana Paula, que teve sete filhos, mora com quatro deles, marido e dois netos órfãos e sobrevive com a venda de cigarros avulsos e sanduíches na praça onde o prédio caiu, não quis acreditar. "Isso só acontece nos filmes", disse.
Mas ao ver a fotografia do filho suíço chorou copiosamente. "É a cara de outro filho meu, o Gabriel, e o sorriso de outro, o William".
Kylian, como se chama hoje o filho de Ana Paula, viajou então da Suíça a São Paulo acompanhado dos pais adotivos para abraçar a mãe biológica e os irmãos.
Há 24 anos, quando ele nasceu, o Brasil sofria com inflação de quatro dígitos ao ano e Ana Paula, ameaçada de despedimento da casa onde trabalhava como copeira caso tivesse a criança, decidiu-se pela adoção.
Do outro lado do mundo, Franz e Yvonne, que tentavam ser pais há muito tempo sem sucesso, descobriram o menino através de uma ONG. E adotaram-no.
As duas famílias, a 10 mil quilómetros de distância, encontraram-se finalmente, 24 anos depois.
Celebraram na casa de um dos filhos de Ana Paula e irmão de Kylian com churrasco, farofa, cerveja e caipirinha.
No dia seguinte, Kylian voltou para a Suíça, onde termina curso de economia. E Ana Paula continuou sem casa a vender cigarros avulsos e sanduíches.