Maior número diário registado em 2024: mais de 970 migrantes atravessam Canal da Mancha
O governo francês promete "intensificar a luta" contra as "máfias que enriquecem com a organização destas travessias da morte"
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Mais de 970 migrantes atravessaram o Canal da Mancha, no sábado, sendo este o maior número diário registado no ano de 2024.
A notícia foi avançada pela Sky News, que cita as autoridades francesas para dar conta da morte de quatro pessoas, incluindo uma criança de dois anos, enquanto tentavam atravessar o canal, de França para Inglaterra.
Bruno Retailleau, ministro francês do Interior, afirma que a criança foi "espezinhada até à morte" e sublinha que os traficantes de seres-humanos têm o sangue destas pessoas nas suas mãos".
"O nosso governo vai intensificar a luta contra estas máfias que enriquecem com a organização destas travessias da morte”, anuncia.
A guarda costeira francesa respondeu ainda a um pedido de ajuda de um barco que transportava quase 90 pessoas e que sofreu uma falha no motor. Quinze pessoas foram transferidas para um navio de reboque, incluindo a criança, que estava inconsciente, mas, apesar dos esforços, acabou por morrer.
Ainda no sábado, um outro barco com 83 pessoas a bordo também sofreu uma avaria no motor.
Três passageiros - dois homens e uma mulher - foram encontrados mortos no fundo da embarcação, tendo “provavelmente sido esmagados e sufocados”.
Desde janeiro passado, mais de 25 mil migrantes chegaram às costas britânicas depois de atravessarem o Canal da Mancha a bordo de barcos improvisados, um número que aumentou 4% relativamente ao mesmo período do ano passado, segundo estatísticas do Ministério do Interior britânico publicadas a 23 de setembro.
Uma série de naufrágios fez de 2024 o ano mais mortífero desde que, em 2018, teve início o fenómeno das travessias a bordo de barcos insufláveis improvisados, em resposta ao bloqueio cada vez mais apertado do acesso ao túnel sob o Canal da Mancha e ao porto de Calais.
Na noite de 14 para 15 de setembro, oito migrantes morreram no naufrágio de um barco que acabava de sair da costa francesa, transportando cerca de 60 passageiros.
A 3 de setembro, pelo menos outras 12 pessoas morreram quando o seu barco se partiu ao largo do Cabo Gris-Nez, no pior naufrágio de 2024 até à data.
Até sábado, pelo menos 46 migrantes já tinham morrido em 2024 durante estas tentativas de travessia do canal, em comparação com 12 em 2023.
Eleito em julho, o Governo do trabalhista britânico Keir Starmer prometeu combater a migração ilegal aumentando o número de expulsões de migrantes e lutando contra os traficantes de pessoas.
Segundo as autoridades britânicas, os barcos improvisados são cada vez mais carregados, com uma média de 52 passageiros por viagem, em comparação com apenas 13 em 2020.