Maior partido da oposição em São Tomé anuncia queixa contra primeiro-ministro por apelo ao voto

epa10205154 A person votes in the legislative, regional and municipal elections, at Dona Maria de Jesus school in Sao Tome and Principe, 25 September 2022. More than 120 thousand voters were expected to cast their ballots in over 30 polling stations distributed throughout the national territory and abroad. EPA/ESTELA SILVA
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O líder da oposição, Américo Ramos, diz que o primeiro-ministro de São Tomé mostrou "o seu caráter desonesto, desrespeitando a lei" porque "no momento de votação, tem o descaramento de fazer campanha publicamente falando dos seus feitos dos últimos quatro anos".
A Ação Democrática Independente (ADI, oposição), candidata às eleições legislativas são-tomenses, anunciou que vai apresentar uma queixa junto da Comissão Eleitoral Nacional (CEN) contra o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, que hoje pediu "mais um voto de confiança".
"Mais uma vez o senhor Jorge Bom Jesus veio mostrar o seu caráter desonesto, desrespeitando a lei, porque, no momento de votação, tem o descaramento de fazer campanha publicamente falando dos seus feitos dos últimos quatro anos", disse este domingo à Lusa o secretário-geral da ADI, Américo Ramos.
Apesar de a lei eleitoral são-tomense proibir o apelo ao voto no dia das eleições, Jorge Bom Jesus, que concorre à reeleição enquanto cabeça de lista do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), disse que "confia na maturidade política" dos eleitores e pediu "mais um voto de confiança" à população "que avaliou, acompanhou [e] foi monitorizando todo o trabalho que o Governo realizou durante estes quatro anos, numa conjuntura bastante difícil".
"Precisamos de estabilidade e de continuidade e é isso que nós estamos a pedir à população, que confie em nós para nos dar mais um voto de confiança para que os projetos iniciados possam ter continuidade e é esse trabalho que estamos a fazer e estamos confiantes", disse o chefe do executivo.
"Acho que é desonestidade. Nós tivemos 15 dias de campanha. Ontem [sábado] foi um momento de reflexão, hoje é o momento para votação. Não há necessidade de fazer todos esses considerando à volta dos quatro anos da sua governação e pedir mais quatro. Vem demonstrar, mais uma vez, o caráter descarado, vergonhoso, triste do senhor Jorge Bom Jesus", afirmou Américo Ramos, que anunciou a intenção de apresentar uma queixa.
"Há sinais claros da nova maioria que mostram uma violação grosseira daquilo que é a lei eleitoral e nós vamos fazer [uma queixa]", salientou.
O atual executivo é suportado no parlamento pela chamada 'nova maioria', uma coligação entre o MLSTP/PSD e o bloco PCD/UDD/MDFM.
Contactada pela Lusa, fonte da CEN disse desconhecer as declarações do primeiro-ministro, mas remeteu para mais tarde uma eventual reação.
Os cerca de 123 mil eleitores de São Tomé e Príncipe são chamados hoje a votar nas eleições legislativas, autárquicas e regional, com os votantes na diáspora a eleger, pela primeira vez, dois deputados pela Europa e África.
As urnas abriram às 07:00 e encerram às 17:00 locais (mais uma hora em Lisboa). Nas duas ilhas que compõem o país, haverá um total de 309 mesas de voto para os 123.301 eleitores.
No total, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem hoje aos 55 lugares da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe.
Pela primeira vez, 14.692 cidadãos residentes em 10 países da Europa e África elegem um deputado por cada círculo. Os restantes 53 deputados são escolhidos pelos seis distritos da ilha de São Tomé e pela região do Príncipe.
Os eleitores são-tomenses têm igualmente de escolher os próximos presidentes das autarquias e o Governo Regional do Príncipe também vai a votos.