Mais de mil milhões de pessoas com níveis elevados ou graves de insegurança alimentar
Número pode duplicar até 2050. A África Subsariana é a região com as ameaças ecológicas mais graves. É o que revela o Ecological Threat Report de 2023. 21 países africanos entre os 30 com pior situação.
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O Ecological Threat Report (ETR) é um relatório anual de ameaças ecológicas, é organizado pelo IEP, Institute for Economics and Peace, think tank internacional, sedeado na Austrália, que publica, o Global Peace Index, o índice global da paz. Centra-se em quatro categorias de ameaças que estão diretamente relacionadas com os fatores de conflito: insegurança alimentar, desastres naturais, pressão demográfica, escassez de água.
De acordo com o relatório deste ano, hoje divulgado, a África Subsariana é a região com as ameaças ecológicas mais graves. Como tudo parece estar ligado, a região conhecida pelo acrónimo MENA (África Subsariana, Médio Oriente e Norte de África), tal como o Sul da Ásia, são igualmente as regiões menos pacíficas.
Os seguintes 21 países africanos estão classificados como países "hotspot". Isto significa que enfrentam pelo menos uma ameaça ecológica grave e estão classificados entre os 30 países com os piores níveis de Paz Positiva: Burundi, Camarões, Uganda, Nigéria, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Zimbabué, Guiné, Chade, Níger, Guiné Equatorial, República do Congo, Eritreia, Somália, Etiópia, Mali, Sudão, Sudão do Sul, Guiné-Bissau, Mauritânia e Líbia.
Sete dos países em pior situação a este nível, asiáticos: Coreia do Norte, Iémen, Síria, Iraque, Tajiquistão, Afeganistão e Mianmar, sendo os restantes dois latino-americanos: o Haiti e a Venezuela...
O Institute for Economics and Peace (IEP) estima que, em 2050, 2,8 mil milhões de pessoas vão estar a viver em países que enfrentam ameaças ecológicas graves, em comparação com 1,8 mil milhões em 2023. A maior parte do aumento vai verificar-se na África Subsariana. Há quatro áreas subnacionais que enfrentam ameaças graves em todos os quatro domínios avaliados e estão todas localizadas em dois países da África Subsariana, a Etiópia e o Níger. Quase 69 milhões de pessoas que vivem nestas zonas estão expostas a um nível grave de escassez de água, insegurança alimentar, pressão demográfica e ameaça de catástrofes naturais, os quatro fatores medidos pelo estudo.
Insegurança alimentar: um problema importante a nível mundial.
O Índice Global de Preços dos Alimentos é atualmente 33 por cento mais elevado do que em 2016, após sucessivos aumentos na sequência da COVID, e depois de mais 18 por cento de aumento após a invasão russa da Ucrânia. Segundo o ETR 2023, há 42 países que enfrentam uma grave insegurança alimentar. Os inquéritos destes países mostram que mais de 65 por cento da população não conseguiu comprar comida para a sua família em algum momento no ano passado.
Mais de mil milhões de pessoas na África Subsariana vivem com níveis elevados ou graves de insegurança alimentar. Prevê-se que este número aumente para quase dois mil milhões até 2050. 35 dos 52 países e territórios da África Subsariana sofrem de insegurança alimentar extrema. 81 por cento das pessoas que sofrem de insegurança alimentar extrema a nível mundial vivem na região.
O risco hídrico é também um fator-chave de conflito, com os incidentes violentos relacionados com a água a triplicarem em média desde 2000. A nível mundial, existem 46 países onde o nível de risco hídrico é grave, e outros 31 países onde o nível de risco hídrico é elevado. Isto acontece quando mais de 20 por cento da população não tem não tem acesso a água potável limpa. Dois mil milhões de pessoas vivem em zonas sem acesso a água potável segura.
Dados comparativos: Portugal e Moçambique
A título de exemplo, comparemos os dados entre Portugal e Moçambique, relativo ao risco de ameaça ecológica (sendo 1 o risco mais elevado e 5 o risco mais elevado): Portugal apresenta um resultado global de 1.02 (ao ter 1 na insegurança alimentar, pressão demográfica, risco hídrico e 1,02 quanto a desastres naturais), enquanto para Moçambique os valores são de 5 em todos os fatores e de 4,19 nos desastres naturais.
O relatório faz também uma projeção do crescimento das megacidades até 2050. Entre as trinta e seis maiores não há nenhuma europeia, mas há várias que já tiveram presença portuguesa: São Paulo, Rio de Janeiro e Luanda, numa lista liderada por Mumbai (Bombaim), com uma projeção populacional estimada de mais de 42 milhões de habitantes.